quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Vai e Vem


Eis que você surge novamente
Vindo de onde eu já vim também
Com um sofrer no olhar
Mas com o mesmo jeito de cativar
De quem sabe até iludir
Amoroso como sempre, desejável como nunca
Ventos bons te tragam e te finquem
Já não sou mais aquele menino
Nem você aquele jovem indeciso
Tantos desencontros, outros caminhos
Saudade, quem sabe até um esquecimento
Um sentimento guardado, escondido
Quero provar desse teu possível amadurecimento
Firmar o que já era sem tempo
Confirmar o que acredito
Provar-te com segurança, com mutualidade
Já que veio peço que não suma como sempre
Desapareça e leve por água abaixo as esperanças
Essas ilusões que me faz criar
Não sei se e de propósito esse vai e vem
Mas já faz tanto tempo
Faça jus a suas palavras tão doces
Podemos ter mudado com o tempo
Mas nós nos reconhecemos nos olhos
Vamos deixar de ser tão largados
Vamos deixar o passado
Vamos nos viver nesse presente
Vamos criar um futuro
Tenho medo de você
Desse teu jeito político em campanha
Fala bem, dá a entender que vai acontecer, mas de repente some
Já estou saturado da solidão
Sou mesmo gato escaldado
Já que me plantou essa linda semente novamente
Vamos fazer germinar e colher os frutos que sem duvida serão bons
Não deixe de regar minha semente com teu retorno
Chega de tantas voltas, rodeios e nenhuma tentativa...

O mesmo e o outro


Pra que perturbar meus sonhos cada vez mais raros
Pra que justo agora fugitivo, agora que te deixava nas lembranças
Justo por essas datas, mesmas palavras, mesmo querer em vão
A tua mesma presença ausente
O sabor do beija a tona de novo, esse que já tinha resquícios de esquecimento
O mesmo lugar, as paredes de saudade, a vontade de te querer ali
Outras pessoas, novos costumes, uma ressaca maior
E você encravado na mente
Tua lembrança me traz o louco tempo que perdi
As enormes besteiras que fiz
As oportunidades que deixei, perdi
O quanto você me destruiu, me maltratou
A noite passa, as bebidas acabam, o sono chega
O outro também veio, foi percebido, notado
Quem sabe a nova chance, mesmo proibido
Mas querendo, tendo saudades também
Saudades de um tempo mais antigo, mais preso
Chegou, ficou, foi embora e voltou
Mas minha cabeça pesava com as misturas e com as lembranças
Com os medos insanos, falsos
Ele terminou indo deixando um abraço e um talvez
Chegou a chuva e sua tristeza
A fraqueza no corpo, mal estar
Mais saudades, mais lembranças, do outro e do fugitivo
Por que não me deixa fugitivo de Vénus
Por que trazer teu beijo mais uma vez
Estou te escrevendo de novo
Mas você está indo e o outro sendo esse ou não está chegando...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Você


Vou me libertar dessa prisão, desse romance ruim
Eu vou me apaixonar novamente
Irei te esquecer finalmente
Não aguento mais tanta fossa
Tanta dor de cotovelo sem propósito
Vou acordar para a vida
Tentarei de novo
O que você quer mesmo é me ver sofrer?
Mas agora chega, não dá mais pra continuar assim
Não nego que quero sim seu romance ruim
Quero seu tudo
Quero seu cinismo
Quero tua infantilidade, teu riso sem juízo
Tuas doenças, tuas frescuras, teu fogo
Mesmo não sendo de graça, eu encaro o preço
Você é um perigo e deve ser por isso que me apaixonei
Engula tua repulsa num coquetel a base de tua promiscuidade
O que você me deixou
Desde que você foi embora meus atos são efêmeros
Uso e sou usado, já me satisfiz por tão pouco
Aproveitando antes da tragédia não é?
É isso que você faz, isso que me deixou
Ainda quero o seu drama fantasioso
O toque malicioso da tua mão
Quero o teu beijo impreguinado de nicotina, meu vicio
Quero teu surdo-mudo-amor
Você sabe que te quero e preciso de você
E você é tão sujo por isso
Tua presença me enoja me causa asco
Tua fala quase inaudível, tua classe de prostituta ao fumar
Como pode isso, por que percorre tanto meus escritos, meus pensamentos, minha vida
Fico imaginando se não tivesse te deixado ir
Ou pelo menos lutado, justificado, ouvido as desculpas esfarrapadas
Se tivéssemos continuado escrevendo esse romance ruim
Acho que nunca saberemos
E você continua habitando em mim acordado e nos meus sonhos
Você é um criminoso que me destruiu, me arrasou
Que impôs seu lugar em mim e vai ser difícil de alguém tomá-lo
Mas eu vou amar novamente, mais forte ainda
Apesar do meu coração quebrado
Podendo levar uma vida inteira
Eu amarei novamente, mais forte ainda
Vou procurar de deixar de fora dos meus escritos
Se assim for possível, se conseguir calar meus dedos
Eu me prometo amar novamente...

Agir


Queria pensar menos!
Mas pensando bem, queria tantas coisas
Querer não é mesmo poder
Pelo menos pra mim
Tudo foi sempre tão difícil
E eu nem sou pessimista
Estou ficando velho, acho que é isso
Acabado pela ação que pensamento causa
Estou desgastado pra minha idade
Já bebi muito e continuo bebendo
Fumo, bebo, fumo, fumo, prendo, passo
Mas agora estou dando um tempo
Não para pensar, mas para agir mais
Organizar a vida, tentar ganhar dinheiro
Ser alguém ou algo de verdade
Não que antes eu não fosse, era sim
Mas quero ser mais, aprender mais, mostrar mais
Está mais do que na hora de começar a me mexer
De correr atrás do prejuízo, mostra pra que vim
Tenho que ocupar-me mais
Mente vazia e corpo em repouso não levam a nada
O tempo segue sem parar
Tudo muda a todo tempo
Preciso de mais determinação
Preciso ser menos passivo as coisas
Preciso pensar menos e me meter mais
Preciso que isso não fique só no pensamento...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Encontrar-me


Como é difícil organizar meus pensamentos
O medo parece ter aumentado
Queria ter um botão pra me formatar
Resolveria tudo de uma vez, estaria novo
Agora vejo que deveria pensar menos
A cabeça pesa, tenho medo de perder o senso
Estou mais nervoso, o coração palpita mais
Queria não escrever tantas mazelas de amor
Queria me libertar de você
Mas confesso nunca querer te esquecer
Quem sabe um dia conversamos
Coloco um fim nesse silêncio presente
E até escuto e entendo tuas razões
Se desejar falar, se puder ouvir também
Tenho a impressão de ficar agora só nos entremeios
Nos olhares salientes, nas mordidas de lábios
O desejo carnal me tomou num grande gole
De uma só vez, como faço com pinga
É uma das coisas que faço bem, me embriagar
Me destruindo aos poucos
E a timidez essa não me larga nunca
Uma doença que ainda não conheço cura
Queria ser menos passivo as coisas
Ter força para fazer as palavras saírem da garganta
Elas parecem entalar, parecem estar aprisionadas
A memória já não e mais a mesma
Deve ser por que a concentração também me falha
Quem sabe um analista resolva tudo
Quem sabe eu me confunda mais

Eu preciso mais de mim...

Dor


De tanto te amar no além
Fui mais longe do que nós poderíamos ter noção
O amor dói tanto que lateja a alma
Mastiga meu pobre coração cheio de ataduras
Tampados os rasgões com band-aids
Eles que não seguram as lágrimas que me afogam
Dói, e a dor me vicia...

Abstinência


Lembro como hoje quando te vi frequentando meu ambiente social
Era simples agora admitir pra mim que sempre tinha te visto com outros olhos
Quem sabe se fosse naquele tempo seriamos só nós, até agora e sempre
Ali se marcava nosso encaixe, destinados como você me disse
Desde o primeiro encaixe de lábios me perdi
Esse gosto ainda me faz encher a boca d água
Prendi-me a esse teu olho banhado a cinismo
Ainda era proibido prós dois, assim acredito
Infiel pra mim, difícil de admitir pra você
Minha primeira pulada de cerca
Iniciava-se ali minha sina por você
Você era tipo o maior amor, o melhor amante e de quebra um carinhoso amigo
Te pedi de presente sem saber do preço que teria de pagar
O génio do altar forjado me cobraria caro
E você veio com tudo isso, embrulhado com papel e um laço de fita
E de repente com a mesma saliência que veio, foi embora
Foi se distanciando, ficando frio até me da à notícia
Até dizer que não queria mais e rir de mim
Eu não soube como continuar
A dor foi dura, senti o sabor das gotas salgadas que me cortavam a face
Mora nos meus piores pesadelos aquele lugar de necessidades fisiologicas em que desabei em pranto
Ainda tento seguir sem me arriscar
Sem amor o que me resta e a loucura
Foi como ser atingido por um choque de mil volts
Despenquei de um imenso precipício caindo de cabeça
Meu coração se afogou em lágrimas
Pedi socorro com muitos goles e pegas, tragadas, prensas
Sinto-me cada vez mais vazio e oco
O buraco está cada vez mais fundo
Não vejo mais verdade em coisas que me faziam respirar
Eu nunca me joguei tão forte
Nunca me entreguei a ninguém como fiz com você
Já você, nem almenos reconhece a forma como me magoou
Você nem imagina o tamanho da minha dor, não é?
É preciso um milagre pra me trazer de volta
Pra eu reconstruir minha consciência
Pra que eu perca essa mania terrível de comparar todos os beijos com os teus
E o hábito horrendo de sempre achar que como os teus não existe igual
Às vezes sou surpreendido por teu cheiro
Na verdade ele nunca foi embora ta aqui, persiste, insiste, não desiste e nem me deixa
A culpa é toda sua, por que você existe?
Eu nem sei mais como me sinto, sabia?
Você é a razão por eu não conseguir me livrar mais dos cigarros
Me apeguei a eles por sua causa, não sabe disso também não é?
Às vezes vejo você neles, é assim que te provo é o que me resta
Juro que tento apagá-los de uma vez por todas, quem sabe assim você vai com eles
Esse deve ser o prémio dos meus pensamentos ilusórios
Por gritar teu nome quando interrogado no que eu queria pra mim
Não deveria ter feito isso
Não deveria ter deixado você tomar conta de tudo
Fui só mais um peixe que caio em sua rede
Mais uma letra pro seu caderninho
Como pode depois de tanto tempo eu ainda estar tão preso
Preso ao inútil, sim por que eu tenho consciência disso
Sei sim que é tudo em vão, que a dor é e sempre foi só minha
É como se eu estivesse me tratando numa clínica de reabilitação
Cuidando do meu vício, da minha doença
E você é a minha doença, minha droga preferida
Vivo numa abstinência que não cessa
Mesmo lembrando das raivas, magoas, injurias
Eu deixaria tudo pra traz, esqueceria sem remorsos
Droga! Só pode ser loucura esse amor
Ainda faria tudo mesmo sem ter nada
Viveria tudo novamente sabendo do amargo fim, mas viveria
Se pudesse pararia o tempo e viveria só nesse ciclo
Seria capaz de qualquer coisa por sua reciprocidade
Mesmo sabendo que ela não existe
Mas sempre que você precisou eu estava lá
E sempre estaria se assim você ainda estivesse aqui
Que falta me faz teu abraço
Sinto a falta dos teus risos
Que saudade de quando você piscava o olho pra mim
Saudade dessa tua cara cínica e dissimulada
Você é mesmo minha droga favorita
O problema é que você me usava de um jeito diferente de como eu te adquiria cada vez mais
Você me viciou, me fez provar o mel e depois tirou
Mas eu sei que não era pra dar certo
Eu sei que você me passou a perna, me traiu
Também fiz isso, confesso
Só te paguei a mesma moeda
Antes a traição que a separação
Esqueceria tudo, perdoaria
Só pra te ter de novo
Mas você não é mais o mesmo, assim como eu também não sou
Te aceitava com tuas mazelas, doenças, defeitos
E não tentaria mudar nada
Pra que? Assim te afastaria novamente
Preciso te deixar ir embora, sei que você não volta
Eu preciso me apaixonar de novo
Eu tenho que me apaixonar de novo, eu prometo que vou conseguir
Eu preciso ir, eu preciso me livrar de você...

Lembra



Então me lembro aqui do maior dos meus casos
Dos abraços que posso ainda sentir ao fechar dos olhos
Minhas lembranças vividas
O pior dos erros que poderia cometer
Já não me lembro bem de tentar te esquecer
Aqui existe o calor da lembrança
O arder da saudade
O lembrar inevitável daquilo que mais temia
Que agora sinto no doer da realidade
Acho mesmo que gosto de tanto te lembrar
Essa é a minha culpa
Gostar da lembrança do doce gosto de sofrer
Aprendi assim a ter medo de também viver
Quem sabe aqui você podia se materializar da saudade que sinto
Que ainda me percorre pelas ruas de calor escaldante
Dos quartos te hotel, músicas suspirantes
É só melancolia, desejo de te ter de novo
Amargo amor, amarga dor
Teu cinismo o aturar do teu jeito sonso
Os quilômetros que trazem os antigos fantasmas
O lembrar, maldito lembrar...