sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O golpe do mínimo


Procurando um próximo, de súbito

Uma luz estampada nas sombras dos azulejos padrões

Reparando no compacto do corpo

Farejando o outro instante ainda inédito

Exploração por baixo da blusa, pele, pelos, dedos

Perigo num piscar de olhos

Lábios ásperos perdendo o fôlego

Fumaças tragadas juntas no vento, achando aquilo tudo o máximo

De ilícito, o encontro favorável, destino instintivo

Sombras ávidas na escuridão

Álibis da liberdade casual

Rápido e demorado

Espera trôpega de satisfação

Flutuação lépida

Pânico sucumbido ao descanso lívido

Pernas trêmulas de suspiros estancados

Sem demora a partida

Suspeitas tem que ser ínfimas

Fumaças soltas únicas no ponto de ônibus

Vontade de estar sendo observado

Dádiva não alcançada, janela não reconhecida

Jogo cínico, transa típica

Amor de rubrica abreviada

Suspiro de fuga obrigada, passos curtos, pesados

Expressão dos corpos de uma solidão clínica

Gotas de sono perdidas

Quarentena

Cicatriz latejando, febre

Digitais tatuadas no meu corpo

Construção esquizofrênica de um romance noir...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Duelo casual


Em instantes assim onde o amor nem é lembrado,

É que ele me fascina com maior vitalidade

É nessas poças de lama-negra-funda que gosto de pisar

De cair e me afogar com a fome soberba, o querer sempre mais

Onde "os mais" são aqueles possíveis únicos instantes de agonia

Sem o medo dos abalos, despidos de roupas e restos de moralidade

A hora que os perdidos se encontram numa mesma estrada de ninguém,

Pois a procura é tão infame que cega os olhos, altera o tato, incha os membros

O saco está fechado e nós estamos dentro

Escorregando pelas brechas, encaixando nos dedos o que a mão procura

Malabarismo de um retângulo para dois

Tudo engolido, olhos revirados, lábios aprovados

Murmúrio de idéias tentadoras

Lugar melhor, olhar, afundar, propor, dispor, foi

Olho na marca de cigarros fumados

Te trago demorado no antecipar da imaginação

Na lembrança suja de uma outra proibição de amor-amar-a-dor

Pois encima dos quatro pés daquelas quatro paredes perco a voz

O sangue gela com o vento das buzinas da janela

Os sussurros arrepiam o sufoco do tremor das pernas,

Te arranco meu nome em gritos abafados de contrações nossas

Somos um contra o outro, duelo casual

Morro renascendo em explosão, descobrindo as cuecas jogadas no chão

Meu calor te derrete em mim

Manchas no chão espelham honestas sensações proibidas

E desde então na prisão das madrugadas, minha cela

Sonho acordado com os dedos me fazendo perder o controle

E nem sei explicar como o formigamento acontece

Só que me conduz na direção daquele amontoado de casas, jardins

Atravessa escorregando junto com os cabos do elevador que nos carrega

Te espera entrar e depois abrir as portas, tuas portas

Flutuo na ponta dos meus pés pela sala, outras pernas adiante

Quase um instinto maligno a me conduzir para junto dos teus lençóis e fronhas

Ligando o som para disfarçar qualquer gemido mais ousado

A luz da TV destoando às sombras, passos do lado de fora

Barba roçando na mente

Contração, marcas na pele, sede

Um cinema vai ser legal, me visita

Viro pro lado e pego no sono...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Replay


Dedos que descarregam,
Afugenta para outro tempo

Nada pode ser controlado pela razão

Brechas de um mundo desconhecido

Paladar sentido mais embaixo
Contorcionismo de pernas tantas do ninguém

Esporo de sangue na consciência

Praia de fim de tarde

Mar cortando segredos nas dunas
Vulnerabilidade
Ondas a serem escolhidas

Ilusão dos dedos na madrugada
Sina inflamável de ancestrais
Pinturas solitárias da memória
Diagnóstico precoce, crônico

Choro de leite derramado

Juramento quebrado

De novo,
Quer dizer, mais uma vez, outra vez
Tantas, até a volta

A fita rebobinada

Para reconhecer o que não existe

Deixa pra lá

E se?
Certeza do nada

O mar, a praia, o esporo de sangue jorrado no medo...