sábado, 25 de setembro de 2010

Quando a chuva atrapalha


Que fazer com a impressão de que meus pilares não fazem parte de mim?
Com essa inspiração latina, que remete a tempos remotos?
Lembranças com cheiro, desejos inatos e a raiva que é característica
Raiva rara, perdida, longe, não tida
Não ter o que não se sabe ficar sem
Coisas nas entrelinhas
O tagarela subentendido
A pornografia virginal da imaginação
Me encontrar no que não procuro
Juntar o desconexo com as gotas de chuva
Atrapalhar os pingos de solidão, evaporar
Pecados escritos na pele-papel-carne
Velocidade do eterno passageiro, sólido e firmado
Um dia, quem sabe?...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dois e um só


Minha mente ainda me trai dessa forma

Sonho, não sei se é a definição correta, acho mais cabível devaneio

Devaneios são mais reais, assim como o desconforto que me fez adormecer mais cedo

Que me fez dizer chega para mim mesmo, não ficar esperando ao relento por mais maus tratos

Por essas tuas palavras duras, essa tua tão trabalhada forma de me desmotivar

Tua boca lotada de respostas e humilhações pra esse cachorrinho que te abana o rabo

Não sei quem piora o estado de quem

Te digo que o vinho não nos desceria bem, não avia clima de comemoração

Mas um bom início seria tentar enxergar fora da bolha, observar, notar

A impressão que tenho é que meus silêncios são mais ouvidos que minhas palavras

Me retirei junto com meu tão frisado egoísmo

Mas olhe bem e você poderia perceber o que fui fazer a seu encontro

O que foi dito inexistente, agora não faz parte de mim

Já que a nova ordem é saber se aproveitar dos outros, espero o novo obrigado

Pensei em cumprir o ritual de quinta, algumas vezes praticado e inúmeras vezes cobrado

Ver um filme ou apenas ficar rodando de um lado pro outro, ver os livros e voltar para casa

Tentei, mas o sanduíche de almôndegas não me seduziu e o filme não cabia em meu horário

Dei-me de esmola para o desconhecido em alguma brecha e tomei meu rumo de sempre

Junto, uma louca tentativa de amenizar os hematomas das tuas pedras contra mim atiradas

E na noite, no sono, ele

Não você, mas ele me soprando mais uma vez vontades que nunca praticarei

A verdade de que ainda estou preso, mas sem coragem de emitir contato

Essa traição mental onde me vingo de tudo

Onde escarro, bato, beijo e desgraçadamente ainda amo

Chego até a sentir saudade e se acordo não abro os olhos, tento voltar

Voltar para aquele canto tão escondido da minha cabeça onde ficam todas as coisas que quero esquecer, mas não esqueço

São sombras como essa que me atormentam tanto e deixam em uma espécie de engodo o sono que não existe mais

Poderia não ter comparado os dois, da mesmo forma que me comparas todo o tempo

Talvez, nem deveria ter fundido essas historias num mesmo nada poético cheio de poesia pobre de metáforas e rica em ego

Mas para ele eu não destino mais nenhum escrito, então aproveito o descontentamento teu com o ódio fatal dele

Esse livro lido por nós dois, numa dedicatória embriagada

Os dois que me corroem literariamente

E no fim o que espero passar é a raiva e não você...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Procura-se


Ainda não me apeguei a disciplina de ficar parado a frente da tela esperando brotar o descarrego nos dedos
Ainda preciso de uma motivação que me faça preencher o espaço vazio
É a hora que a represa vaza e nada segura os anseios reprimidos

Quando os passos trilhados em caminhos tortos se expurgam

Agora o medo pode ser liberado, todos podem te pegar no ato, um fato

Tenho fé de ainda me desgarrar do animalesco que tanto me atrai

Portas entreabertas com olhos caçadores de momentos que supram as necessidades

Convite pra uma trilha escura onde nada se vê, nem mesmo a dor da solidão

O outro lado de um lado que fica bem atrás da carência, o desespero

Vontades satisfeitas e um buraco mais fundo sendo cavado aos respingos da luz do mundo que chama, que permanece mesmo com a adrenalina nos poros

Como poder recorrer à tamanha obscuridade

Que drama clichê esse do lugar escuro com cheiro de podre

E essa pseudo-literatura de pulsos serrados

Os mesmos caminhos percorro viciosamente

Muitas vezes enojado das práticas feitas por uma vontade recorrente de explodir o trancado por dentro, todos os atos nunca praticados antes do tempo da rejeição

Deparar-me com outra estrada clara poderia trancar o efêmero

Resolver a compulsão do sabor desconhecido e banal
Às vezes penso que me acomodei a querer me encaixar em pegadas bem trilhadas
Já poderia ter colonizado essas matas virgens

Mas é uma pena que fui deportado seguidas vezes para o silêncio da madrugada
Estou procurando o acaso, o esbarrão em um lugar comum
Uma inocência perdida que pago a cada instante que entreabro a porta com meu olho caçador um valor de recompensa marginal...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Cuspindo a maçã


Queria eu levar a vida que pensam que levo

Ter a grana que pensam que tenho

A moleza bancada com suor alheio

Aproveitador traumático

Cafetão próprio do meu ser

Sanguessuga adocicado da rejeição

Extorquindo o porto seguro

Enquanto pensam quem sou,

Tenho meus vícios que são inreabilitáveis

Meus medos inseparáveis

A insegurança insuperável

A solidão nunca conformada

Fúrias estancadas

Abismos incorrigíveis

Ardores, borboletas invisíveis

As mesmas palavras repetitivas

Egoísmo dos sentimentos só meus

Dores não são divisíveis

Represa arruinada que não transborda

Madrugadas deprimidamente depravadas

Prazer solitário, solidário, sórdido, sujo

Esperanças afogadas no breu

Sono e sonhos sequestrados

Lembranças, memórias, tempos

Prego abrindo buracos na madeira que nunca foi dura

O que deveria ter sido feito

As falas-faladas-na-hora-devida

As outras coisas contidas como sempre

O silêncio caçador do que não foi dito

Pensamentos consumindo, paranóias

Loucuras nos barulhos apenas internos

Concentração fraca, atenção múltipla

Devaneios promovidos e despudorados

Ânsias da carne cada vez mais podre

Sereno das almas castigadas

Explicações para que?

Não aprendo a ser só mais alguém...