Preciso começar de alguma
forma
Essa coisa que não tem
nenhuma pretensão
Que nem valerá o tempo
perdido da escrita
Que tenta ser em vão uma
forma de alívio
E por isso, assim, dessa
forma tronxa já é nada
Eu sei, sei que até o nada
é de fato algo
Mas ninguém quer
filosofias aqui, não
Aqui se quer distúrbios, entendê-los,
diagnosticá-los
Pois quem escreve perdeu
as contas das crises
Enfim me entrego, eu
quero, quero ser simples
Afinal quem diz que nada
quer, mente
Então podemos descartar os
primeiros versos
Além de não prestarem é
pura desfaçatez
Quem sabe até um plágio
dos mais sórdidos
É vergonhoso ser solitário
na liquidez dessa geração
É vergonhoso admitir fraquezas,
vergonhoso não ser quantitativo
É vergonhoso não se
encaixar, vergonhoso sentir vergonha
Esqueceram de me apresentar
a caderneta de boas maneiras do futuro
Cometo gafes sem perceber,
não concebo as regras desse jogo
É que ninguém se atreve a
ler o outro, isso é viadagem,
Que é pior do que ser
coisa de mulherzinha
Isso foi o que me disse um
exemplo fiel da nova era
Não existe respeito pra
quem ainda consegue poetizar a vida
Por mais, mórbida, tediosa
e hipocondríaca que seja
Calma, calma leitores
inexistentes, sou de fato envergado ao drama
Por isso todos esses
questionamentos, é a crise tomando as rédeas
Não sou de todo um
pessimista, tenho a cara de pau de não perder a esperança
Poderia ser um dos anjos
daquele filme alemão
Eles me parecem mais
humanos que nós, mesmo sem o direito de sentir
Mas não sou, e apesar de não
me encaixar, tristemente às vezes me assemelho...