segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Onde faltam vírgulas sobram pensamentos
Instintivamente preencho linhas
Como quem descobre o corpo alheio
Sem saber como terminar o verso
Onde ele deve parar?
Se é que para o pequeno cuspe
Uma escrita madura e estruturada
Solta, funda, culta, puta
Um poeta cego vagando sem nexo
Estômago vazio faminto por prosa
Garganta seca pedindo rima
As unhas roídas, rasgadas
Os pulsos em fluxo
O coração encharcado
Pobre, vago, branco, cheio de linhas
O caderno de poemas vazio...
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Conhecidos Olhos Estrangeiros
De que adianta ficar sentado acumulando pensamentos e possibilidades numa madrugada viciada?
Tentar escrever algo, mas apagar as frases sem nexo muitas vezes
Transparecer a confusão interna, torná-la pública
Quando te vi naquele mesmo lugar dos mesmos corpos famintos com o mesmo desejo e instinto, juro ter pensado que seria mais uma aliviada rápida
Que seria mais uma cuidadosa forma muda e mútua de saciar-me se nenhum ser com vontades fisiológicas ou igualmente libidinosas atrapalhasse essa nossa escolha momentânea
Alguns disfarces necessários, teus olhos saltando no interior de mim, um convite para o lado de fora
Saindo de um mundo e indo em transição a outro, sem se conhecer, apesar de sermos sem querer saber já tão íntimos
Meus olhos te acompanhando por trás e os teus por dentro de mim se aproximando por tua face ao meu lado, me olhando de frente e é deles que vejo brotar primeiro o comprimento em direção a tua boca que depois é jogado em mim:
E ai?
E ai, cara, beleza?
Nossos pés, tornozelos, batatas, joelhos, coxas, músculos, veias, corpo, instinto nos guiam sem mais palavras para um lugar fixo onde tudo possa acontecer rápido e se desfazer do mesmo modo, assim minha mente extasiada pensa
No carro achado com um tempo de procura, pois um esquecimento aconteceu, mais um “E ai?”
Um surpreso convite para jantar, conversas, coisas em comum
A observação acertada de já terem nos visto por ai
A janta temperada com assuntos de todos os tipos, cafés bebidos, palavras jogadas no universo, a volta pro carro
Músicas com versões num estilo sessentista e um rumo incerto, mas com paradeiro certo
O carro para, um longo e tão esperado beijo interrompe uma conversa sem nenhuma importância
Vamos para outro lugar?
Para onde?
Não pergunte!
Ânsias reveladas, entregues sem pudores um no outro
Destino percorrido, bem acomodados, é dada a largado única e ininterrupta
Todos os ângulos nos meus olhos, claro e nítido, um prazer dolorido
Palavras proibidas deliciosamente soltadas ao pé do ouvido
Formas variadas de satisfação em descobertas espontâneas, os corpos falam
Silencio quebrado pelos sons de uma boca louca matando a fome por outros túneis mais subterrâneos
Quer que eu pare?
Nunca!
Meus olhos me filmam por cima em todos os ângulos possíveis, teus olhos perfuram minha carne na caverna que possui, possuindo a mim
Explodo tudo que tenho nas alturas e permaneço em movimento
Realizo teu desejo, e o que antes conheceu teu céu está tateando tua face
Te vejo livre do que produz, molho minha pele com água quente
O desbravador da caverna minha não descansa, está cheio de sangue nas veias Lábios se tocam, o tempo está acabando, telefone toca, a realidade chama
Gostei de você!
Escuto isso mais uma vez, me bate um medo do preço a pagar
Mas eu não posso negar que gostei também
Vamos embora, eu vou embora com um beijo no rosto
Em casa a modernidade nos aproxima de novo
Uma outra vez quem sabe?
Uma estranha sensação nos dias que prosseguem
Se não fosse só mais uma passageira possibilidade
Vejo que não são pensamentos passageiros
Se a madrugada fosse completada por um prazer satisfeito
Se não fosse mais um prazer barato que me custa tão caro
E se não é?
Se te adentrasse nessa minha rotina bagunçada?
Se me bastasse viver desses encontros?
Teus olhos ficaram em mim...
domingo, 8 de agosto de 2010
Para ti, Navegador zumbi das madrugadas
Poderia deixar para depois mais esse amontoado de palavras
Mas suspeitas de loucura fazem meus olhos mergulharem em tempos remotos tão presentes
A loucura não avisa ninguém de sua visita, será?
Conversas intermináveis pelas madrugadas já nem tão solitárias pelo conforto repartido
O amor que foi mudando, transformando, reformando, acompanhando, ajudando, estando
A amizade sendo cultivada com a insônia permanente de quem escuta os pensamentos ao pé do ouvido
Mergulhando no desconhecido de si mesmo
Assim que alguma minúscula brecha se abre no duro escuto criado sem se saber como
Aprendendo aos poucos como é ser aquele de fora dos círculos xerocados de um comportamento torto
Não achar graça em coisas politicamente corretas e muito menos em parodias mal formadas de uma merda estereotipada
Não dar beijos de felicitações quando precisam ser dados, mas quando socos seriam mais cabíveis
Não se sentir um extra-terreno-humano-bicho-bichano-insano-estranho-tonto
Absorver o mal absorvido transformando em inspiração para os vômitos de sempre
Abrir as portas pode ser uma batalha magistral quando ninguém pode tocar na maçaneta
Todos podem decepcionar, abrir feridas novas e inflamar algumas ainda não cicatrizadas
Atenção é uma grande forma de culto pessoal para o próximo
Cheio de pensamentos atrapalhados um conselho poético vira uma resposta intima
Deixe a loucura fluir por suas veias, para assim entontecer a realidade alheia e cheia de formulas mofadas
Se esconder dentro daquilo que causa uma observação maior
Sem saber que é melhor sair e abrir o peito para as flechas do viver
Ouvir besteiras, venenos doces, sabedorias furtadas e destorcidas por uma mente cheia de repressões
Socializar só com angustias, tormentos, medos, ironias
Um pouco de mim no outro do sono nosso que não vem
Quem sabe ser mais flexível, mas sem perder de vez a textura
Tentar dizer pro outro, mas acabar falando sobre mim, minhas insanidades varridas para baixo do tapete
Me ver em outros tantos dentro do que ainda não entendo ser...