sábado, 16 de junho de 2012

Sobre quem foi, ou passou, ou qualquer porra dessas




Tenho um vício, uma disfunção em acumular acúmulos de todos os tipos
Espumo de raiva quando acusado de deixar as coisas para depois
Não reconheço defeitos, não é isso que faz um covarde?
E essa é apenas uma das tantas acusações feitas a mim, a grande maioria, pura verdade
Já sinto o gosto do arrependimento brotando em minha língua
Já estou conformado com a chuva, dessa vez de porquês
Essas linhas vão gerar novas e talvez ainda mais concretas, outras acusações
Mas o telefone não toca e eu não consigo me concentrar no livro
Estou apenas lendo, o ato mecânico, as palavras não se agrupam para formar seus significados
Minha atenção está no telefone, na chamada que me seguro para não fazer, por isso escrevo
Talvez para ocupar as mãos
Talvez para me livrar dos pensamentos que não quero ter
Não quero imaginar essa conversa que acontece a quilômetros daqui
E se tinha algo maquiado, aqui, nesse acúmulo, dessa vez de palavras, acabo por entregar de bandeja meu desconforto
Quase fúria mesmo, dessas que pensamos até ser em vão, mas necessárias
Tenho que tirar esse encontro indesejável da mente, não tomaria um café sem propósito
Eu mesmo nem gosto de café, se pudesse aqui nesse instante, agora já de raiva pela demora,
Tomaria uma cerveja e fumaria alguns cigarros, já que a poesia não me serve para nada, nem é um alívio sequer
Sai de mim imaginação que surge agora incontrolada, você tem o seu valor?
E o telefone, mudo ainda, um silêncio que só eu poderia fazer nos momentos em que não suporto mais vozes
Uma dose do próprio veneno para dar sabor ao tédio da espera
A noite veio e com ela muita chuva, odeio a chuva
Detesto confirmar acusações, fazer delas verdade
Adoro defeitos, gosto de exercitá-los, claro que não de forma pejorativa
Tenho apenas o intuito da melhora, às vezes não atingida, às vezes tão demorada
Acho que mudei o foco, comecei a falar besteira
Pensando bem tudo está meio vomitado mesmo, sempre foi assim
Deve ser a pressa que estou sentindo e que em alguns momentos sim, eu tenho
As unhas todas roídas, desejo agora os ossos, cansei
Foda-se vou ligar...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Rodovia desinteressante




Ele desabafa desejos falsos de morte por aí
Reclama da tristeza severa do frio, do desassossego aflito do mar
Das fases-faces da lua e do posicionamento de outros planetas que dizem revelar e esconder particularidades
Eu quero mesmo é fugir de quem fui, do que representávamos juntos ser
Naquele antes em que éramos tão distintos e intolerantes
Não sabemos cumprir ameaças e a estrada não é a mesma
Não é o nosso destino seguir roteiros contrários, entrar noutros cruzamentos
Possíveis caminhos únicos foram deixados de lado por conta de uma rota segura e contínua
Seguimos, dificultamos o trajeto, chegamos até a derrapar, mas estamos sempre alongando as milhas pela frente
Tem sempre um buraco ou um animal morto adiante e nem sempre desviamos a tempo
Alguns mosquitos insistentes grudam no para-brisa, nada que o vento não resolva
Asfalto quente, estrada-de-chão-com-terra-escorregadia
Vai ver atolamos um no outro
Vai ver resolvemos seguir, já que os outros não se encaixavam desde o primeiro choque
Estacionei por muito tempo, até saber em que rodovia entrar
Correndo e dando sempre no teu cruzamento, não no dos outros, nunca me sustentaram mesmo
Terminava sempre por abandonar a rota, já desgastada e impaciente
Mesmo assim perdi muito idealizando o condutor perfeito, uma boa sinalização, pistas largas
Caí em teu cruzamento mais uma vez, demos a largada
Vamos conduzindo isso que não tem direção, ou tem, sempre tem
Gosto do imperfeito (gostamos), do escuro no canteiro que revela lindas paisagens no amanhecer
Estamos sempre avançando algum sinal, descumprindo alguma lei
Sempre acima da velocidade, tento colisões
As multas chegam e nós pagamos o preço
Perdemos pontos na carteira
O que importa mesmo é continuar na estrada, não ter desvios
As sinalizações ficam mais claras quando queremos enxergar
E atropelos, aqui, são necessários...