segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Linha e Agulha


Resmungo intolerante

Poesia retalhada

Historia sem começo

Medo fumegante

Planos não realizados

Qual é o teu nome?

Olhos do breu da minha claridade

Martelo da consciência

Foco mudado, ciclo entreaberto

Água teimando a escorrer pelos dedos

Como dar o laço perfeito?

O cronometro já foi ligado

Por gentileza não se vá antes de vir

Melodia alegre para uma letra triste: Samba

Pernas bambas, borboletas renascidas

Olhar viajante, longe, longo, logo

Quatro paredes, nas mãos minha imaginação

O toque da mente, será que me pensa?

Fora dos sonhos, entregue ao tato da realidade

Escarro de mal entendidos do passado, passados-presentes

Uma nova rodada do ridículo da vida

Irrigação para o deserto

Página inteira, folha dupla

Suspiro no fim da tarde

Noite de sono, madrugadas em claro

Competição às cegas

Distância aumentando

A coragem que não tenho

Poço sem fundo

Roer de unhas cariadas

Só olhar?

Jardim de plantas carnívoras

Concorrência de fim de semana,

De olhares de breu,

De sede-seca-inflamável

Como te achar?

A voz censurada por tremer

Esperanças semeadas

Algo a se fazer

Ponto cruz

Nó de marinheiro...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ladrão Imaginaruim


Foi ali mesmo que meu olhar caiu sem freios no breu

Libertaram-se do meu rosto as expressões que não conheço

Jogo de passa e repassa

Os meus no seu, os seus em mim

Nenhum impulso arriscado

Cliente satisfeito, outros olhares a mim jogados

Queda livre de instantes permanentes

Imaginarium

Quatro cantos percorridos

Gestos contidos, alguns lances perdidos

As letras dos nomes, gentileza trabalhista

Procurando algum presente?

Ladrão de uma vitima entregue

Riso nervoso, teu olho, calafrios

Dois nomes que não sei

Olhar parado, boca, sede, seca, deserto

Fui com os olhos

O olhar ficou até o fim do teu expediente

Te acompanhou no ônibus, até em casa

Percorreu teus passos

Abriu a porta do teu suposto quarto

Te viu cair na cama cansado do dia corrido

E desejou saber o que via e onde estariam os olhos negros que me olharam...

domingo, 19 de dezembro de 2010

Migalhas restantes


Compor a saudade em palavras

O movimento de dentro

Essas coisas que nunca vão embora,

Justamente por que não ficaram

Cansaço da espera pungente

Misturando historias inacabadas

Vitamina no liquidificador

A música da Marisa, Norah, Ana, Amy

Tantas, todas, nenhuma

Chuva no asfalto quente

Conversa imaginária

Virar de costas, represa transbordando

Perguntas feitas, palavras arrancadas

Vencido pela insistência

Mais do mesmo

Mãos vazias, braços ocos

Naufrago das multidões

Caçando o predador

Tiro ao alvo no breu de madrugadas disformes...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Um dia encontrei perdido na caixa de papeis


Tempo que não passa

Dias e minutos metafísicos

Passos da luz

Velocidade de tartaruga

Espera que nunca cessa

Ida sem volta

Retorno ausente

Erros que se repetem

Sono que não vem

Madrugada do passado

Tormento que não vai

Silêncios escritos no nada

Palavras mudas de engano

Sonhos desmemoriados

Pinturas sem face

Paixão que não liberta

Ossos fervidos que fazem tremer

Marca profana na pele

Retalhos manchados de abandono

Balança desregulada

Fogo congelado

Segurança claustrofóbica

Lagrimas nunca derramadas

Amor que não se encontra

Apagão ao meio-dia

Mesmo jornal reescrito todos os dias

Espumas do mar noturno

Tristeza que sufoca

Coleira do ressentimento

Liberdade levada embora

Deserto em verão de seca

Saudade enraizada no chão fértil da mente

Espiral de lembranças

Perguntas sem respostas

Questão nenhuma

Chuva de interrogações

Respostas, pra que te quero?

Escarros roubados

Ciclos de abstinência

Medo que perdura

Tentar o não conseguido

Paz que não acalenta

Tédio atarefado

Desespero que inspira

Solidão produzida

Verdades sem razão

Satisfação que nunca sacia

Loucura normalizada, devaneios

Um dia, a felicidade...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Sem negar sua falta


Poderia me livrar das culpas implantadas

Pediria para que abandonasse essa tentativa de planejar uma estrada de mão dupla

Te faria largar esse caminho e me pegar na insônia da madrugada

Mas como não tenho esse impulso positivista impregnado nos meus dias

Vou remoendo mais essa mazela, de te perceber em outra historia

Não te puniria ao cárcere torturoso do nós

Como saber até quando te pertenceria

Até quando aquele fantasma nos deixaria em paz

Até quando ele me deixaria agüentar a segurança que você me oferece

Apesar de ter no meu peito um grito de suplicio dizendo que esse ainda não é teu encaixe

Sem nenhum tipo de mau pensamento ou agouro, a você só quero o bem

Mas o outro sim, ele conhecerá meu tormento, receberá em dobro o que me esporou

Esse é o jogo da vida, esse é o jogo dos atos a que nos submetemos

Desse instinto que toma nossa razão quando o odor é forte e o risco bombeia sangue

Quem sabe ainda não estou pronto

Sem saber como aturar e fazer durar aquilo tão idealizado

Talvez prefira sim, todo calafrio que me dá raspando a idéia de cores mais vivas

Calafrios vão embora, é uma ilusão, duram muito menos que borboletas

Procurei tanto que acabei sem saber o que achar

Já não tenho mais quem queria me ter com cegueira

Meu egoísmo não me deixou seguir viajem

Tenho olhos voltados para traz

Valorizo e desejo o que não posso ter

Minha garganta está seca das paisagens azuis, livres de qualquer nojo

Meus olhos enxergam sem ver nada nem ninguém se aproximando

Meu corpo só recebe toques acidentais, animais, sugadores

Restam migalhas minhas jogadas pela cama, no computador

Livros empoeirados, músicas que não escuto e lembranças que não posso ter

Nada novo de novo no dia de hoje

O gelo das ausências que tiveram descasos presenciais

Saudades respingadas nos momentos perdidos, banais

O controle está com quem afinal?

O caminho está repleto de pequenas pedras que atrapalham meu andar

Isso tudo triturando na mente não é vaidade minha

Te vejo mais adiante, assim espero...