segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Embrulho



Faço o que agora para acalmar anos inteiros de agonia?
Vamos anular todos os culpados antes que seja tarde
Encarar de vez esses motivos mudos, essa patologia que já pertence a todos
Uma brutalidade extra no pacote
A tua fome de atenção já se esbaldou com todos os meus nervos
Não controlo mais esse tremor tão prematuro das mãos
Os desabafos são apenas pinturas na minha cabeça
Estão bloqueando os caminhos, fechando as portas
Tenho uma horta de distúrbios e as sementes foram tuas
Agora manifestando culpados naturais, tudo já foi distorcido mesmo
Não tenho mais forças para ensaios de tragédias que escorrem para baixo do tapete
É melhor abortar o estrondo no andar de cima
Risos não estão incluídos nesse pacote
Não pretendo presenciar meus passos apresados na madrugada
O perigo precisa de um esconderijo
As coisas não são resolvidas com estilhaços de pólvora
Deveria me acalmar, fumar mais um cigarro
Nunca aprendi a centralizar pensamentos e seguir em frente
Sou a banda podre e daí decorre toda a dependência
Quem sabe conversar com um amigo, abstrair
Mas fico abrindo cicatrizes num espaço em branco
Antecipando o pesadelo do sono
Aniquilando os acontecimentos, esses não precisam mesmo achar uma brecha
Deveria ter a coragem para cuspir o enjaulado dentro da boca, por entre a língua, afundando na garganta
Mas nessa altura as palpitações estão descontroladas
Só escuto as hélices do meu coração, mas não levanto voo
O suor escorre pelas minhas costas, nunca quis estar aqui
Muito menos provar desse sabor azedo
O gosto é uma coisa que não se esquece...

sábado, 3 de setembro de 2011

A reclamação do pássaro que está voando



O telefone toca e a ansiedade interrompe o primeiro toque
Uma voz ausente já há tanto tempo diz alô
Mergulho então nas velhas lembranças remoídas e rejeitadas
Terceiros me desculpam da minha falta de coragem
Terceiros vão alimentando o de ainda não foi dado como acabado
Existe um intrometido que em pouco tempo vai tomar outro caminho
Me aproveito da rachadura e escorrego para o que tenho medo
Aceito o pedido, espero uma futura ligação
Vou roendo as unhas e achincalhando o tempo
Pelos cantos dessa cidade muitos anseiam o mesmo momento
O horário se aproxima, olho pro lado e nenhum barulho
Vou construindo as conexões entre momentos tão diferentes
Quem sabe a ficha poderia finalmente cair
Os outros cada vez mais afoitos e com todas as letras decoradas fazem suas contagens
Os versos antigos invadem minha cabeça e dou por certa a recaída
Retorno na esperança de acalmar meus calafrios
Não, é tudo muito rápido, sem maiores delongas,
Para não atrapalhar os novos planos talvez, os planos originais
Chutado para o escanteio, a sombra enjeitada, o fantasma mais requisitado
Você pode ter escorrido dos meus bolsos, mas eu não caibo nos teus
Dispenso o teu segundo lugar, não tenho talento para preencher buracos
Coloquem os melhores perfumes e tomem seus rumos
Espero que se enfiem num tremendo engarrafamento
Que faça um calor horrível nessa noite de inverno
Esqueçam o que não devem em casa
Sejam barrados na portaria
Lembre de mim o tempo inteiro e se arrependa da companhia
Que ela toque sua ferida com os melhores agudos
E na canção de amor engasgue, que no beijo sinta mal hálito
E assim se sinta arrependido e meu gosto invada tua boca
Porra, definitivamente não era ele que tinha de estar ai, aqui
Vamos pensando juntos no que deveria ter sido
Estragando o que não é bonito
Que esteja lotado, pisem em seus pés, atrapalhem sua visão
Que tudo acabe antes da hora
Depois dessa grande merda não vai existir mais a vontade de levá-lo onde eu costumava ir
Deve ser lá o teu casulo mais seguro
Nada de se afogar nos lençóis brancos nem se aliviar com a água quente
Nem garrafas de vinho para aflorar e colorir a madrugada
Vai economizar o trocado do pernoite e ficar só na vontade, apenas isso espertão
Aprenda a não prometer o que não pode cumprir
Eu estou tentando me encaixar nessa cama sem espaço para mim...