(Para Mônica Almeida)
Difícil tentar letrar isso, colocar em palavras o que
quero
De alguma formar apunhalar o que ainda não está
cicatrizado
Sei que terminarei sem ter o resultado que queria,
Afinal já começo achar isso algo sem necessidade, faço
isso com frequência, mudar o foco
Desistir pode ser sempre uma boa escolha, mas pra
desistir, temos que começar novamente
Tanto que já começo a falar para mim quando quero mesmo
falar para você
Sim, eu falo para mim, assim acumulando letras com essa
sinalização torta
Acho que é coisa de gente sozinha, gente assim como a gente
Quero que me desculpe, não quero medir ou justificar tua
dor, te nomear
Prometo não tentar misturar o que dói em mim com o que dói
em você, coisa que alias já acabei fazendo
Tento mas não da para ser menos dramático, não agora, não
com agente
Nós que gastamos nosso começo de adolescência fumando
cigarros e divagando sobre nossa insignificância e o medo da morte
Nós que só falávamos “eu te amo” depois de muito embriagados
Nós, os que tentavam ver e entender primeiramente
Esse foi (mania minha de falar sempre no passado) o jeito
de dizer
Te dizer que também sinto, não sei bem o que, mas sinto
Dizer também que me importei, me preocupei, fiquei de
fato assustado e com medo também
Pensei muito em você, me coloquei varias vezes em teu
lugar, quase, quase rezei
Fiquei ruminando essa coisa de vazio, ausência, vida e
coisas não ditas
Pois só tendo contato com a morte que lembramos conscientes
da vida
E isso que se lê não é uma lição de vida ou uma receita
de superação
Isso não é nada, algo sem pretensões
Quero mesmo apenas mostrar/dizer algumas coisas que sei até
que você já sabe
Isso é uma necessidade
Estamos e somos sempre ausentes uns dos outro, estamos
sempre na solidão
Mesmo em vida a ausência, a falta, o vazio se fazem
presente
Ali, no contato diário, no bom dia, do almoço ao jantar
Em todos os acúmulos existe a ausência, assim,
repetitiva, constante
Quando isso se faz irremediável de fato, suportar é uma
alternativa distante
Então perguntamos: Porque? Onde estão as explicações?
Cadê a justiça?
Lágrimas não nos aparam, abraços apenas ajudam a respirar
melhor
Poderia ser como os outro e dizer apenas: “Meus pêsames”
Mas isso realmente adianta? Não, não adianta porra
nenhuma
A conformação não é uma coisa fácil, poderia dizer até impossível
Tem coisa mas pedante que se conformar?
Por isso te digo, não se conforme, chore quando for necessário,
apenas não se entregue
Sofra quando a falta e a ausência pesar no corpo, mas não
caia por completo
Sabemos que coisas assim não passam por inteiro e nem
devem
Afinal é uma parte sua que não deve ir embora
Guarde tudo isso e cresça
Agora ficam as coisas não ditas e outras tantas não
ouvidas
Não existe peso bastante para esse vazio
Não escute esse silêncio que fica, afinal de contas por
mais duro que pareça, ainda existem os outros...