sábado, 29 de outubro de 2011

Entre o esbarro e as conversas sociais



Existe um satélite e outro entre nós
Só a distância te aproxima de algo
De quilômetros a discussões de gênero
Não sei se carência, não sei se exagero
Quanto mais impróprio, quanto mais incomodo melhor pra ti
Te desejar na ausência é fácil para mim,
Mesmo sem um fio condutor que transmita algo além das anedotas despejadas sem controle
Deságue tuas histórias, vou costurando esse livro mirabolante, ingênuo eu arriscaria dizer
Você finge não soletrar minhas perguntas, paralisa as tentativas, bloqueia aproximações
Rasgo meu sofrer antecipado e engulo com sacrifício qualquer esperança mais entalada
De repente esses dois anos parecem duas décadas, dois desertos, dois pontos desajustados
Minha memória fraca vai resgatando, ou compondo, ou fantasiando tua imagem
Essa já recriada pelos ângulos certos, as edições, os vultos, aos custos e recursos
Reinicio, atualizo e nada me chega ao balão de pensamentos
Então coloco a culpa na falta de cabelos,
Na dormência da coragem, na falta de impulso, nas olheiras de noites acumuladas
Mania de antecipar o grito surdo antes da dor invadir o tremor do meu corpo
Mania de adiantar esse atrasado que nunca chega de fato
Então abandono o jogo nas preliminares
Não quero fazer parte do álbum de figurinhas platônicas
Ainda me arrisco a habitar a realidade, por mais relativa que possa ser
Você está sempre a flutuar, sempre se esquivando
Então para que me entregar o jornal da tua vida?
Limpe esses óculos e veja que a porta está aberta, é só entrar, invada, não peça licença
Abstenho-me dos nomes e de destinos astrológicos
Apenas seja capaz de tatear algo que não se limite e teu imaginário
Saia da platéia e entre nesse telão enorme
Eu tenho mais que uma simples informação...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Embrulho



Faço o que agora para acalmar anos inteiros de agonia?
Vamos anular todos os culpados antes que seja tarde
Encarar de vez esses motivos mudos, essa patologia que já pertence a todos
Uma brutalidade extra no pacote
A tua fome de atenção já se esbaldou com todos os meus nervos
Não controlo mais esse tremor tão prematuro das mãos
Os desabafos são apenas pinturas na minha cabeça
Estão bloqueando os caminhos, fechando as portas
Tenho uma horta de distúrbios e as sementes foram tuas
Agora manifestando culpados naturais, tudo já foi distorcido mesmo
Não tenho mais forças para ensaios de tragédias que escorrem para baixo do tapete
É melhor abortar o estrondo no andar de cima
Risos não estão incluídos nesse pacote
Não pretendo presenciar meus passos apresados na madrugada
O perigo precisa de um esconderijo
As coisas não são resolvidas com estilhaços de pólvora
Deveria me acalmar, fumar mais um cigarro
Nunca aprendi a centralizar pensamentos e seguir em frente
Sou a banda podre e daí decorre toda a dependência
Quem sabe conversar com um amigo, abstrair
Mas fico abrindo cicatrizes num espaço em branco
Antecipando o pesadelo do sono
Aniquilando os acontecimentos, esses não precisam mesmo achar uma brecha
Deveria ter a coragem para cuspir o enjaulado dentro da boca, por entre a língua, afundando na garganta
Mas nessa altura as palpitações estão descontroladas
Só escuto as hélices do meu coração, mas não levanto voo
O suor escorre pelas minhas costas, nunca quis estar aqui
Muito menos provar desse sabor azedo
O gosto é uma coisa que não se esquece...

sábado, 3 de setembro de 2011

A reclamação do pássaro que está voando



O telefone toca e a ansiedade interrompe o primeiro toque
Uma voz ausente já há tanto tempo diz alô
Mergulho então nas velhas lembranças remoídas e rejeitadas
Terceiros me desculpam da minha falta de coragem
Terceiros vão alimentando o de ainda não foi dado como acabado
Existe um intrometido que em pouco tempo vai tomar outro caminho
Me aproveito da rachadura e escorrego para o que tenho medo
Aceito o pedido, espero uma futura ligação
Vou roendo as unhas e achincalhando o tempo
Pelos cantos dessa cidade muitos anseiam o mesmo momento
O horário se aproxima, olho pro lado e nenhum barulho
Vou construindo as conexões entre momentos tão diferentes
Quem sabe a ficha poderia finalmente cair
Os outros cada vez mais afoitos e com todas as letras decoradas fazem suas contagens
Os versos antigos invadem minha cabeça e dou por certa a recaída
Retorno na esperança de acalmar meus calafrios
Não, é tudo muito rápido, sem maiores delongas,
Para não atrapalhar os novos planos talvez, os planos originais
Chutado para o escanteio, a sombra enjeitada, o fantasma mais requisitado
Você pode ter escorrido dos meus bolsos, mas eu não caibo nos teus
Dispenso o teu segundo lugar, não tenho talento para preencher buracos
Coloquem os melhores perfumes e tomem seus rumos
Espero que se enfiem num tremendo engarrafamento
Que faça um calor horrível nessa noite de inverno
Esqueçam o que não devem em casa
Sejam barrados na portaria
Lembre de mim o tempo inteiro e se arrependa da companhia
Que ela toque sua ferida com os melhores agudos
E na canção de amor engasgue, que no beijo sinta mal hálito
E assim se sinta arrependido e meu gosto invada tua boca
Porra, definitivamente não era ele que tinha de estar ai, aqui
Vamos pensando juntos no que deveria ter sido
Estragando o que não é bonito
Que esteja lotado, pisem em seus pés, atrapalhem sua visão
Que tudo acabe antes da hora
Depois dessa grande merda não vai existir mais a vontade de levá-lo onde eu costumava ir
Deve ser lá o teu casulo mais seguro
Nada de se afogar nos lençóis brancos nem se aliviar com a água quente
Nem garrafas de vinho para aflorar e colorir a madrugada
Vai economizar o trocado do pernoite e ficar só na vontade, apenas isso espertão
Aprenda a não prometer o que não pode cumprir
Eu estou tentando me encaixar nessa cama sem espaço para mim...

sábado, 20 de agosto de 2011

O que já não é como antes




Cadê você pelos cantos escuros da casa, acalentando, dando espaço as brechas do sol
Cadê poesia?
O parto vai sendo cada vez mais complicado, me apeguei na gestação
As madrugadas ainda são ativas, mas os pensamentos não fluem pelos indicadores como antes
São raros os momentos que me encaminham para os alívios, os únicos que possuía
As vontades que saio ejaculando precocemente
Os acúmulos vão sendo armazenados nos espaços já tão cheios das coisas de sempre
Tudo vai sendo disfarçado com outros gostos, palavras, silêncios
Nem o perigo de ontem afugenta o tédio de agora
As ideias vão se desprendendo da cabeça junto com os cabelos que estão desabitando meu coro cabeludo
A correnteza vai apenas seguindo e esperando o momento de desaguar noutras águas
É tédio sem rotina o que vai entupindo artérias e preenchendo o folgado das calças
As pedras no caminho continuam a calejar os pés, agora sem tantas reclamações
É o costume, esse desespero de não dispor mais de tentativas
Não a disponibilidade para ser tentada, nem a rua chama mais
Vou garimpando o desejo, um que seja menos animal e menos gente também
Só o querer que ainda lateja mesmo nas feridas enraizadas
A procura do molde certo para o ideal criado
Os olhos saem vagando, catando as referências de dentro por fora
Os passos estão sendo dados pro lado contrario, tortos, desvirtuados
Cada vez mais longe das rédeas desejadas
Uma seleção cada vez mais rígida, cada vez mais tonto e atordoado no fim da festa
Catando as poucas lembranças no dia seguinte
Remoendo e remoído
Afundando entre os lençóis congelados de tantas noites uivantes
Amedrontado com as palpitações e a desidratação do corpo
Se vendo do jeito que não queria num reflexo que vai sendo evitado
Medindo a força que existia antes e percebendo que o que já era pouco sempre pode ser menos ainda
Não tem mais como improvisar sorrisos, e como é chato sempre o mesmo dramalhão
Gritando as explicações disfarçadas de cada desgosto e ninguém ouve
Mas não da para corrigir de vez a postura, parar com o refrigerante e ser um livro aberto
Não é todo mundo que pode sair colorindo a vida sem cair na cafonice
Existe felicidade na tristeza também
Então vou usando tudo o que posso contra mim
Me acostumei com os atalhos que fui tomando sem destino algum
Vamos criando as próprias leis, valorizando todas as contradições
Vou encontrar a liquidação certa e comprar a alma com o beijo mais viciante...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Do que foi deixado e suas contra indicações




Uma solidão de mentiras juradas vai me aprisionando em culpas
Esvaziando o avesso que anda revirado
Veias estão congestionadas por cima da pele
Os ventos não me sopram a lugar nenhum, lugar ninguém
Impulsos não me fazem avançar, a ficha do sobreviver não cai
Nada de riscos oportunos ou tentativas estimulantes
O abandono chega sempre antes, muitas vezes antecede o acontecer
Minhas escolhas subiram patamares, estão distantes
Uma aquarela em tons de cinza
Vou estranhando vontades, entalando os quereres
Delas não me lembro, não as tenho mais
Meu pecado maior é o silêncio vencido
A facilidade do suspiro e o ardor da consciência
O intervalo entre o desabafo não tido, rejeitado
As reticências, os lugares de mim que vou esvaziando
Constância cômoda de ir piorando tudo pelo descaso
Passos confusos impedindo acontecimentos
Bloqueio de rachaduras bastardas
Vandalismo interior, arrastão de sentimentos
Distúrbios distribuindo as senhas de atitude
A linha reta com as mesmas paisagens repetidas
Placas de impedimentos nos canteiros proibidos
O peso da cabeça não permite cortar caminho
Sair desbravando aquela outra coragem de menino
Os desprendimentos abandonados ao longo dos tratados traídos
Um ranger de dentes ancestral
Sem espaços para uma pseudo perfeição
Aliás P-E-R-F-E-I-Ç-Ã-O alucinação preferida
O esporte da auto-sabotagem...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Macho Alfa



Tua amargura acelera palpitações de outros
Presenteando-me mãos tremulas e um estômago descompassado
Os tormentos foram repassados por ciclos crescentes de agonia
Um show de horrores muitas vezes revivido por não ter o que fazer
A necessidade era mais forte que o orgulho da leoa que defendia suas crias
Gritos abafados, repressão, digitais impressas na coagulação do sangue dos hematomas
Uma indiferença acumulada por nós a cada golpe de uma guerra sem escolhas
Alma e rotinas atormentadas, silêncios acumulando desesperos
Caminhos separados por um punhal numa primeira lembrança cinzenta
Um grito inocente de socorro em meio à terra rachada, um vestido azul avermelhando
Cacos de esperança e folhas secas pelo chão da casa
Urros, mãos fechadas, e o cuidado jurado no altar aos pés de Deus?
Não era permitido questionar, a regra era obedecer
A ausência, a fuga, o pulo da cerca, devastação nunca lembrada
As lágrimas dela enchendo teu copo, garrafas, barris, cultivando teu alambique
Você esculpindo com rugas e angústias a dona do ventre a te dar frutos
Sede que nuca passa, promessas que nunca se cumprem
Procuro sonolento de cansaço por explicações ou até mesmo algum murmúrio que seja
Motivos que passam de mão em mão feito batata quente
Calmarias sorrateiras, tempestades destrutivas
Tenho medo do teu reflexo no espelho que me vê
Me acalmo por beber de outras agonias
Me martirizo por também carregar as culpas desses tormentos que vou deixando acumular, crescer, pesar cada vez mais
As responsabilidades questionadas, a vergonha inaceitável
São teus cabelos brancos contra os espaços falhos dessas ideias repassados por outros atordoados meninos acovardados
Acorda para as perdas que estão crucificando os que mais sofrem teu sofrimento
Não serei eu que te esfregarei vícios na cara, me calo, calamos, sempre
Disfarçamos na ressaca com nossos melhores sorrisos
O maior problema é não termos tido uma amnésia alcoólica
Sempre vai haver alguma coisa incomodando por baixo do tapete
Os cacos estão ficando tão pequenos que chegará o momento de não ter mais como colar
Mas quero dizer que uma hora aquele cômodo não vai ser escuro o suficiente para esconder tua vergonha...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Estiagem


A vida me envia contas que não consigo pagar
Tão complicado entender os sinais necessários
Sigo contra a corrente e me deparo surpreso com a banalidade, a mesma causadora de fuga
Ando sufocando com a mesmice que preguiçoso vou deixando preencher os cantos da casa
Me acomodo pelos escuros não atingidos pela luz da televisão
Não respeito refeições, alimento compulsões e sigo domesticando distúrbios do existir
Abrir as portas e correr para os riscos das tentativas sociais é me render
Compactuar com as minhas desgraças e reforçar comportamentos reprovados
Os do lado de fora me incomodam com a satisfação cotidiana, pelo menos podem mudar
Pular a linha da moralidade e se lambuzar com a lama do real
Não tenho como mudar de lado, abracei o inquestionável
Isso traduz o distanciamento dos genes, um estranho parente a ocupar mais um espaço
Atos indiferentes nunca questionados, hierarquia de silêncios
Um referencial a nunca ser cumprido e para onde apontam as pegadas
Não me rendi às cobranças, nem delimitei caminhos e muito menos engoli os sonhos
O relógio biológico trocado me revela o nascer dos dias, a repetição do inacabado
Terreno onde só o desejo floresce, o instinto que faz quebrar o gelo é motivo de fulminante dependência
O hoje esconde a vontade de dizer, nada se guarda é outro começo, só
Tenho as chaves, mas mesmo assim me sinto e estou preso
As ondas que vem e banham os pés não podem retornar
Não se acha novos ciclos pintados no horizonte
O agora é um ladrão de pensamentos e o tempo um crápula
Nada para se fazer, a mesma trilha, caminhos circulares
O mesmo rosto refletindo o não
Uma única estação onde nada desabrocha, não aprendi a deixar florescer
O nada é insuportável, alterações entre a estranheza e o asco a depender do humor
Taquicardias revelando clichês, pulgas atrás da orelha e as mesmas manchetes no jornal
Outro par de olhos para enxergar melhor o entardecer
Não chove mais por dentro...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Coxia



O ponteiro segue seu rumo, a chuva alaga a cidade
Eu me alimento das unhas na esperança inerte de estancar as chagas
O escuro me abraça assegurando essa falta de liberdade
Recolhimento involuntário a criar pretextos, ancora enraizando solidão
O poço sem fundo que engoliu minha moeda recheada com o desejo mais puro
Uma sobrevivência que seja por esses meios de luta diária
Fome despreocupada, caçada louca de focos, o centro
Essa mutação da pele, o corroer dos ossos, a inflamação dos nervos
Os pecados encarnados, marcados a ferro
Fantoche de si mesmo para o julgamento dos outros
Desespero de quem nada sabe
A insegurança da memória que remete a essa paixão, doença incurável
Portas sem trinco enfileiradas à minha frente, nenhuma saída de ar
Faces enrugando, pés dormentes, vontade a alongar esse caminho
Karma recorrente, estômago de oco descrente
Correspondências sem endereços, sem respostas, palavras cansadas
Sonhos de bolha imperfuráveis, distúrbios, compulsão
Sujeira incrustada por milênios, esgotos para um encontro
Nada de explicações, os olhos soletram teus pensamentos inabaláveis
Distorção do encosto barraqueiro, lágrimas dos crocodilos lúdicos
Toda a consciência de que é preciso sangrar os calos,
Cair muitas vezes de joelho, respirar fundo e desejar muito mais merda...