quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mosaico





Sim, às vezes a necessidade bate do nada
Acompanha por dias uma coisa que embola por dentro
Nó de marinheiro, novelo crescente de linha
Hematoma que demora desaparecer
Revirado, do avesso, baú desordenado
Quero ter uma conversa com o homem do espelho
Sem perigo de cacos e anos de azar
Faxina de desesperos, mais poeira por baixo do tapete
Uma mudança precisa ser feita, coragem
Suplemento para compor o espaço em branco
Entendimento para as palavras, silêncios
Só, reconheço os contornos furtivos das sombras
Meia luz corrompendo desajustados
Pingos manchando o chão insaciável
Solidão curada com filmes e muita pipoca
Curvas acentuadas, centímetros acumulados nas calças
Mentiras em alta definição
Mãos vazias, olhos desencontrados
Renegação, andar de baixo todo meu
Ontem quis ir embora
Hoje quero despedaçar reflexos
Fluxo congestionado
Garganta seca, febre inconformada
Conexão baixa, lentidão, comodismos
Foco corroído pelo tempo
Dialogo não diagnosticado
Opiniões na lata do lixo, um luxo a cada ferida
A diferença entre ser e fazer pose
Auto-afirmação alheia, luta de golpes baixos
Telefone sem fio, ondas de pensamento
Egoísmo de um julgamento feito...

domingo, 1 de maio de 2011

Permitindo mãos nos bolsos



Estranho-me recolhendo pontos fracos
Me atiro no conforto de uma troca
Deixo rastros onde chovem carícias
Corro os riscos de estar mortificando outros seres
Aniquilo possíveis descobertas fora do meu contexto
Perguntas estourando minhas barreiras
Um grude a me cansar da mesma forma
O fuso horário distanciando os tempos, fruta colhida antes da hora
Nenhum incomodo mais persistente, paciência carente a diluir afastamentos
Tentativas refazendo aquela sombra boa,
Pra se esconder do sol, apanhar a brisa, soprar as cinzas
Reforço a purificar o fogo, pólvora flamejando, semente replantada
Back?
Coleira frouxa, gaiola aberta
Um frio germinando do intestino
Olhares passados, repassados, roubados, um gosto novo sufocado
Vontades não realizadas, desistências anunciadas, pulsação
Pedidos que não importam, não se importam
Exposição controlada pelas rugas germinadas na face
Nada esperado em troca, nenhum reembolso, nem mesmo lucros a colher
Certeza mesmo só de perda, de um no outro
Noites acolhidas, yellow songs
Fotos a triturarem promessas dispensadas
Lembranças no museu azul do paraíso
O quarto intacto, deixado para trás, abandono para o novo
Nada firmado, tudo no alcance do toque
Descoberta as cegas de um território já tateado
Cascata que cai livre ao encontro de um rio sempre diferente
Novos sabores de um reencontro...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Dos buracos além dos poros


São presenças assim que constatam quem não sou mais
Os respingos de uma sombra rala tentando se agarrar na parede
Uma lembrança mantida pelo cheiro
A falta de atenção que existe no ato da prática
Meus pensamentos eu jogo pela janela do ônibus
Uma cachoeira de versos, poesia se desfazendo no ar
Pensamentos enlatados correndo pela cidade
Recrio um controle que nunca tive, finjo verdades
Dependo de cronologias que não posso quebrar, pacto, transtorno
Rumino repetições, desenterro, ressuscito esquecimentos
Do nada escureço os dias, anoiteço as tardes, reviro madrugadas
A noite encarna com suas sombras adoentadas
Sou um caso banal de essência perdida, um rotulo odiado
Sou as coisas que não termino, um rastro de cigano
Carrego pros dias a bagunça do quarto
Os sentidos ficaram desforrados como a cama de insônias cultivadas
Eu dispenso toda e qualquer lentidão da chegada, agonia, garganta seca
Erro todas as apontarias, não me acerto
Uma gagueira me prende num mundo que não sei sobreviver
Escondo-me nas solas dos sapatos, procuro minhas pegadas
Não tenho fome do que me oferecem
A paciência se finda antes da hora, desapego e me canso fácil
Desisti das procuras e por incrível que pareça detesto lamentos
Minhas ânsias são de vômitos, enjoei de tudo e não me livro de nada
Só preciso mesmo avançar, continuar precisando sempre
Entrar em casa, quebrar todos os pratos e cair na gargalhada
Aprender que as coisas podem ser até menos complicadas
Deixar a saudade escorrer nas horas de rebelião
Perceber tudo que não se pode esquecer também
Quem sabe ter um dia para arrumar os papéis rabiscados
Não falar das marcas adquiridas pelo corpo, a vida, idas
Chegar qualquer hora na esquina certa, o esbarro
Ou mesmo começar mais uma vez
Das contrações ao parto
Plantar e colher interrogações...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Pernas Bambas


Quando vamos encontrar tempo para a amizade?
Deveríamos fazer as pazes
Acabo de romper meu tratado de silêncios, de um riso cultivando úlceras
Tenho que levantar minha bandeira branca primeiro
Alguém tem que fazer algo, tuas atitudes só funcionam na banalidade
Como posso cumprimentar o inimigo?
Nunca é seguro com agente, escancaro brechas de asco e entregas involuntárias
À noite, quando o sono não vem e vultos mentais invadem minhas paredes
A mente fervilha pensamentos, cozinha os atos não contidos
Os espasmos gratuitos que dividimos sem saber, sabendo
É sempre melhor beber a felicidade, tragar o medo, retardar
Maquiar com destilados e sombras o espaço vazio
Criei um amigo imaginário, cultivei nas linhas, planta carnívora
Erva daninha tomando conta de tudo
Quebra-cabeça de peças minhas, incompleto
Regressos são sempre esperados com a cara lavada e o orgulho derrotado
A manhã cai, as palavras banais não servem nem para motivar uma descarga
Andei pensando em por uma pedra naquilo que se foi, mas nunca partiu
Podemos ficar a sós?
Estranho costurado de lembranças, ossos e cinismo
Procuro minutos, paro os ponteiros, destruo ampulhetas
Existe essa amizade?
A vergonha se perdeu em algum encostamento enlameado
Lágrimas estão em divida, falência, reembolso pela gratidão não atendida
A culpa podia te fazer desmoronar, se não me sufocar primeiro
Querido, nunca haverá amor suficiente, nossa gula não se iguala
Mire sua certeira arma casual, queime aquele poema amassado no esquecimento
Então, quando faremos essa faxina, as mudanças, trocas, transfusões?
Quero esse toque de nervos inflamados
Passe por aqui, traga a noite de lua cheia, esqueça a chuva
Coloque fogo nesse prédio assombrado, explore, descubra a herança perdida
Cerque todos os lados com teus explosivos ilícitos, me desfrute
Mas não me abandone embriagado desses líquidos que não tenho mais, nunca provei
Estou serrando as algemas, elas vão se partir, eu vou embora de sua ausência
Enquanto isso dói e eu alimento desencantos...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um bem que faz tanto mau


Você me entala na garganta, alimenta meus tumores
Conviver é cada vez mais complicado
Estou ficando sem ar, roxo, intoxicado de maus tratos
Não dou conta de rompantes histéricos
Ironias descabidas, cobranças inexistentes
Chega de cultivar essa relação que não existe
Vai e vem de insultos, dedos nas feridas inflamadas, hemorragias
Vitimização alardeada, rebatida
Insistência de uma minimização ofertada por quem?
Ar de superioridade, reflexos insuportáveis
Amizade confundida com um passado inocente de descobertas
O que faço mesmo é ruminar tuas ofensas, me acostumo
Sigo abstraindo teus pré-julgamentos e mal entendidos
Pois faço o dito por teu merecimento
Saio ofertando cortadas desmemoriadas
Esbravejo descontrole em público, só eu?
Eu, retalhado de palavras duras
Saturado de reclamações repisadas, moídas ao mais fino pó
Isso tudo a corroer um não sei o que de sentimento
Não te levo, nem a sério nos impulsos, nem nos ódios, sabe se ser?
Não abandono nada antes do extremo incomodo do fim
Espero ser abandonado, solto mais uma vez
Desorientado cato todos os pedaços, faço curativos
A dor vai sendo estancada aos meus modos, meus silêncios
Posso até ser deixado, sei que sou, mais nunca vou embora
Estou sufocado por tua fome de atenção
Concerta esse distúrbio de visão, encara o real
Sem fantasias e verdades tuas, criadas e vividas irritadamente
Disco arranhado repetindo desaforos
Sombras disformes nesse espelho turvo
Faces inumeráveis, bipolaridade
Historia escorrendo pelo ralo?
Não, ainda não, quem sabe nunca
Gosto disso tudo
Da água fervendo os nervos
Compulsão de velhas mexiriqueiras
Ranger de dentes
O conhecimento dos meus erros de ortografia
Minha falta de poeticidade, companheirismo, ciúme
Sussurros de najas mortais
Belas gargalhadas e bandeira branca...

quinta-feira, 31 de março de 2011

Uma mentira evitada, ou quase!


Por mais que pense em como poderia dar certo, o fato é que o encanto não resistiria
Acabaria por não aturar impulsos de primeiras décadas, julgamento disfarçado
Não poderia viver encharcado de vinho para poder te desejar como merece
Nem sempre estaria destilado e com a porta dos fundos aberta
Quem sabe um pouco mais tarde, quando o disse me disse não importar tanto
Quando as coisas forem mais relevantes, desprovidas de psicologias discutíveis
É estranho me incomodar com tua dor-de-cotovelo
Egoísmo meu!
Temos coisas a resolver?
Admiro o prazer de te ter nos meus bolsos, ao estalar dos dedos
Sem enganos futuros paro corroer o tempo e torná-lo ácido
É esse meu caso torrencial com a solidão, com esses clichês românticos
Uma idealização fanática de um amor-paixão, desconcertante e perigoso
Entranhas trêmulas, terremoto de nervos, borboletas pactuadas
São sonhos inquietos, pesadelos confortantes
Meu ego te agradece, mas acho que meu amor não te enxerga
Não abro mão do medo, do reio, de pragas que invento compulsivo, a cada instante
E se não der certo?
E se te fizer sofrer mais uma vez?
Se for perca de tempo?
Se for apenas vazio?
Não?
Se?
Saio repetindo mentalmente lamurias retorcidas
Arranhando, demolindo o que não existe
Falta algo
Falta-me nessa historia
Não me encontro nos pensamentos compartilhados
São ataduras para a dor
Remédio para a insônia
Não tenho como me responsabilizar
Raciocino demais esse possível engatamento, corro dele
Sim corro dele também, corro, corro dele sim
Ele que não existe, que quase já sou eu
Inventei meu Frankenstein interplanetário
Sou o ele seu
Repetição macabra de desilusões
Inspirações para mais versos ruins, tentativas visionarias
Não me permito ir embora dessa paranóia da rejeição
Não me permito caminhar em outras estradas, novos caminhos são escassos
Não faço nada, nem sou de nada, fui embora e bati a porta, me tranquei
Evidencio rancores e invento renascimentos pecaminosos
Alimento fatalmente tentativas irreais
Espero um ideal guardado nos silêncios da lua cheia...