quinta-feira, 21 de abril de 2011

Dos buracos além dos poros


São presenças assim que constatam quem não sou mais
Os respingos de uma sombra rala tentando se agarrar na parede
Uma lembrança mantida pelo cheiro
A falta de atenção que existe no ato da prática
Meus pensamentos eu jogo pela janela do ônibus
Uma cachoeira de versos, poesia se desfazendo no ar
Pensamentos enlatados correndo pela cidade
Recrio um controle que nunca tive, finjo verdades
Dependo de cronologias que não posso quebrar, pacto, transtorno
Rumino repetições, desenterro, ressuscito esquecimentos
Do nada escureço os dias, anoiteço as tardes, reviro madrugadas
A noite encarna com suas sombras adoentadas
Sou um caso banal de essência perdida, um rotulo odiado
Sou as coisas que não termino, um rastro de cigano
Carrego pros dias a bagunça do quarto
Os sentidos ficaram desforrados como a cama de insônias cultivadas
Eu dispenso toda e qualquer lentidão da chegada, agonia, garganta seca
Erro todas as apontarias, não me acerto
Uma gagueira me prende num mundo que não sei sobreviver
Escondo-me nas solas dos sapatos, procuro minhas pegadas
Não tenho fome do que me oferecem
A paciência se finda antes da hora, desapego e me canso fácil
Desisti das procuras e por incrível que pareça detesto lamentos
Minhas ânsias são de vômitos, enjoei de tudo e não me livro de nada
Só preciso mesmo avançar, continuar precisando sempre
Entrar em casa, quebrar todos os pratos e cair na gargalhada
Aprender que as coisas podem ser até menos complicadas
Deixar a saudade escorrer nas horas de rebelião
Perceber tudo que não se pode esquecer também
Quem sabe ter um dia para arrumar os papéis rabiscados
Não falar das marcas adquiridas pelo corpo, a vida, idas
Chegar qualquer hora na esquina certa, o esbarro
Ou mesmo começar mais uma vez
Das contrações ao parto
Plantar e colher interrogações...

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