sábado, 16 de fevereiro de 2013

Esperar o que se quer




Não tenho técnicas e não faço jogos de conquista, não sei
Não crio regras, reajo ao que me é ofertado, assim, naturalmente
Não é assim que tem que ser?
Pelo menos é o que sinto
Sentir, sempre procuro sentir, sentir e reagir
Não reconheço fugas, esqueci a repressão
Preciso das linhas, falar é complicado
Soletrar palavras é ficar em dívida com o que se diz
Não sou do tipo que programa ações, prezo pela continuidade
Seguir, continuar, é esse o desafio
Passo a passo, poetizando os tropeços
Procuro apenas uma alma
Faço confissões antecipadas
O controle me foge das mãos, escorrega pelos dedos
Eu, condenado por querer
Sim, o grande culpado, ah culpa, inteiramente minha
E bem que isso poderia ser mais um poema de amor
E não é?
Sim, é sim, todos são!
Não sou daqueles que disfarçam, entro de cabeça
Estou por inteiro, me estrago em excessos comedidos
Sou paciente e não sei esperar
Quero, apenas quero, e isso é sempre assim, tão complicado...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Muito ajuda quem acorda



Não se pode chegar atrasado nesse sonho
É preciso estar sempre atento, também não é admitido mudanças de horário
O bom mesmo é estar sempre adiantado, pois é um sonho de muitos
A concorrência pra sonhar só aumenta, todos se julgam capazes e querem realizar
Não existe mais espaço para enganar os que também compartilham desse atrevimento
Não é assim tão fácil, fechar os olhos e cair no sono
Nesse sonho ninguém dorme e os olhos devem estar mais que abertos
Sacrifício é inevitável  e acúmulos são mais que necessários
Formigas não tem medo do peso que carregam, formigas sustentam
Quem empurra com a barriga não deixa o sonho tomar forma
Aqui, nada se desfoca nem destoa
O caminho tem que ser percorrido a passos firmes, as passados são curtas e de muita luta
Ele, o sonho, é frágil e constantemente desbota
Muitos abandonam ou são abandonados por ele, que também é temperamental
O tempo é curto e a vontade é muita
É preciso empenho, persistência, sangue, vísceras
Talento é importante, mas dedicação é fundamental
Tudo complica quando comunitário, muitas cabeças provocam confusão
O drama só é aceito no momento apropriado
Pois ele, o sonho, também é promiscuo, guloso, vaidoso, morre de ciúmes, é cheio de intrigas
Gera lágrimas quando atropelado, mas acalenta também, faz sorrir
O gozo depende do ritmo das palmas, da frequência, do entusiasmo
É preciso que outros contemplem e os outros tem muito a fazer
O sonho também é enganação
Memorias forjadas e muita mentira
É preciso juntar pessoas para se entreterem com uma falsa verdade por alguns instantes
Quem sonha mente, quer enganar , quer muitos aplausos e matérias no jornal
Então, pra não atrapalhar meu sonho que também é de muitos, é melhor acordar
Acordar se não quiser mais sonhar é claro
Acorde, pois esse é um sonho onde não se dorme...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Da ausência irremediável




                                                                                        (Para Mônica Almeida)

Difícil tentar letrar isso, colocar em palavras o que quero
De alguma formar apunhalar o que ainda não está cicatrizado
Sei que terminarei sem ter o resultado que queria,
Afinal já começo achar isso algo sem necessidade, faço isso com frequência, mudar o foco
Desistir pode ser sempre uma boa escolha, mas pra desistir, temos que começar novamente
Tanto que já começo a falar para mim quando quero mesmo falar para você
Sim, eu falo para mim, assim acumulando letras com essa sinalização torta
Acho que é coisa de gente sozinha, gente assim como a gente
Quero que me desculpe, não quero medir ou justificar tua dor, te nomear
Prometo não tentar misturar o que dói em mim com o que dói em você, coisa que alias já acabei fazendo
Tento mas não da para ser menos dramático, não agora, não com agente
Nós que gastamos nosso começo de adolescência fumando cigarros e divagando sobre nossa insignificância e o medo da morte
Nós que só falávamos “eu te amo” depois de muito embriagados
Nós, os que tentavam ver e entender primeiramente
Esse foi (mania minha de falar sempre no passado) o jeito de dizer
Te dizer que também sinto, não sei bem o que, mas sinto
Dizer também que me importei, me preocupei, fiquei de fato assustado e com medo também
Pensei muito em você, me coloquei varias vezes em teu lugar, quase, quase rezei
Fiquei ruminando essa coisa de vazio, ausência, vida e coisas não ditas
Pois só tendo contato com a morte que lembramos conscientes da vida
E isso que se lê não é uma lição de vida ou uma receita de superação
Isso não é nada, algo sem pretensões
Quero mesmo apenas mostrar/dizer algumas coisas que sei até que você já sabe
Isso é uma necessidade
Estamos e somos sempre ausentes uns dos outro, estamos sempre na solidão
Mesmo em vida a ausência, a falta, o vazio se fazem presente
Ali, no contato diário, no bom dia, do almoço ao jantar
Em todos os acúmulos existe a ausência, assim, repetitiva, constante
Quando isso se faz irremediável de fato, suportar é uma alternativa distante
Então perguntamos: Porque? Onde estão as explicações? Cadê a justiça?
Lágrimas não nos aparam, abraços apenas ajudam a respirar melhor
Poderia ser como os outro e dizer apenas: “Meus pêsames”
Mas isso realmente adianta? Não, não adianta porra nenhuma
A conformação não é uma coisa fácil, poderia dizer até impossível
Tem coisa mas pedante que se conformar?
Por isso te digo, não se conforme, chore quando for necessário, apenas não se entregue
Sofra quando a falta e a ausência pesar no corpo, mas não caia por completo
Sabemos que coisas assim não passam por inteiro e nem devem
Afinal é uma parte sua que não deve ir embora
Guarde tudo isso e cresça
Agora ficam as coisas não ditas e outras tantas não ouvidas
Não existe peso bastante para esse vazio
Não escute esse silêncio que fica, afinal de contas por mais duro que pareça, ainda existem os outros...

sábado, 1 de dezembro de 2012

Sobre o que não precisa mais ser entendido, ou algo assim




Troquei All Star por Mocassim e foi vontade própria
Deve ser porque tenho mais barba e menos cabelos na cabeça
Por causa das rugas que agora riscam minha testa
Tenho surtos alucinógenos de velhice, murcho mais rápido que um maracujá
Observo-me mais de longe e nem sempre me satisfaço com o que vejo
Tento policiar minha insatisfação com doses cavalares de uma paciência que não sei de onde provêm
Minha obra prima sempre foi a solidão e o incômodo recorrente da mesma
Quero me atropelar menos, me chocar menos com os muros cinza espalhados estranhamente ao longo do caminho
Uma vez uma vidente disse que seria um bom motorista
Ainda não sei guiar
As esquinas para mim são sempre iguais
Não sei se esse é o segredo, não sei se existe algum de fato
Faço referências intermináveis ao engano
Crio minhas próprias fantasias e as torno reais por alguns instantes, mesmo sem colocá-las em prática
Estou sempre praticando o inexistente e tento com isso não me privar das realizações  
Estou tentando arrumar uma bagunça que não sei quem fez
É que não fiz essa desordem sozinho
Perdi o senso de organização em alguma noite chuvosa
Em algum momento que não sei qual, não foi mais possível manter tudo em seu devido lugar
No bem da verdade, não lembro quando estiveram, não me localizo
Estou desfragmentado, sem fluxo, nunca soube ser constante
Estava muito preocupado tentando obter algum silêncio, era barulho demais
Vozes estridentes socando violentamente uma formação já comprometida
Me preocupei com o silêncio, tentei não ouvir e esqueci a desordem crescendo em volta
Havia culpa na conquista do silêncio e isso me alimentava
Culpa e silêncio tem sua porção nutritiva
Isso começou a virar um breu e não era para ser assim
Mesmo com toda a luta, ruídos ensurdecedores sempre escapavam sorrateiros
E esse silêncio tão repetitivo e pouco almejado se fez audível
Reclamações é o que sempre fora sorteado
Nesse circulo vicioso tapar os ouvidos e fechar os olhos não foi uma boa escolha, nem adiantou
E que a culpa também cansa e assim, nesse cansaço, está cada vez mais difícil sair da cama
Não querer alguma coisa é querer demais
Existe sempre um querer abafado no não, e sim, eu quero, quero muito, o tempo todo e com muita força
Passado é o que me resta, o que tenho ultimamente, além dos ruídos é claro
Nem os cigarros resistiram, tenho me socorrido neles com mais freqüência
A caderneta está sempre pronta para receber uma frase nova
Um desejo futuro de algo que passou
Um jeito silencioso de fazer ruídos, meu jeito
Nenhum sinal de vida alheia
Nenhum olhar, apenas as vozes, apenas sombras ralas a sumir
Eles não escutam os ruídos do meu silêncio...

sábado, 8 de setembro de 2012

Algumas bobagens que fugiram




Abraço a loucura para escapar da rotina
Me saboto por não suportar meu dia-a-dia
Apenas uma tentativa de controlar essa rota sem guia
Vou indo para lugar algum e querendo chegar onde, para quem?
Acabo sempre destoando,desviando, deslizando, desiludido
Não quero pensar na solidão
Acendo todas as luzes, deixo a TV no volume máximo, não quero estar só
Me ocupo dos meus livros e filmes, quando muito desesperado, ouço música
Quero estar surdo para esses silencio que só, eu escuto
Detesto meu drama, essa falsa literatura, minha pretensão e o clichê modesto
Sou um paspalho sem salvação, mais um carente sem receita médica para a cura
Poderia ligar e conversar com alguém, mas não quero desperdiçar o tempo alheio
Talvez não tenha números na minha agenda
Patético mais uma vez e olha que admitir não é o meu forte, prefiro a mentira
Afinal de contas fomos feitos para alimentar ilusões
É que preciso da fantasia para preencher os buracos
É que preciso também escrever para ocupar esses espaços
Resultados sortidos um pelo outro talvez
Não tenho teorias, nem obtenho muitos resultados
Estou na noite, entre cigarros, leite quente, a lua, vodka com muito gelo e limão dando sabor a amargura
Tento apenas me esvaziar dos vazios
Não posso encher ninguém com essas lorotas açucaradas
Nem soletrar as palavras de um livro de poesia vagabunda
Não suporto quando fazem isso comigo, me alugam para lamurias de balcão de bar
Por que sim, eu sou um cretino também
É que Mainha disse que devemos assumir nossos podres e garantir a salvação
Mas tenho outras coisas a me preocupar
Como essa outra galera que resolve dialogar com meus ouvidos na hora do sono
Quanta besteira posso juntar em tão pouco espaço de papel
Quem sabe um dia eles me ensinem a escrever um poema de verdade
A ter uma conversa normal, tatear a realidade
Não sei se quero continuar preenchendo os espaços
Quero dar uma volta, tomar uma cerveja e alugar alguém no balcão do bar...

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

De vazio e covardia




Faz dois dias que não me olho no espelho, meu reflexo lembra o teu
Quero esquecer tuas rugas que precocemente já são minhas
Dois dias afundado em casa, sem poder viver o que chamo de vida, minha vida
Fico aqui te esperando chegar, ninguém sabe como e nem quando
Alguém tem que estár aqui por via das dúvidas né?
As coisas não deveriam me afetar, mas você nem sabe que acaba sobrando tudo para mim
E nem sei por que estou me dirigindo a você assim, dessa forma sabe?
Você, a primeira pessoa do singular
Fica num tom de confissão e não é isso, tá bom, no máximo um desabafo
Mas sem nenhuma pretensão, afinal isso nunca vai ser lido por quem deve ler, não é?
Vou tomar um banho, quero me livrar do sabor do desrespeito,
Talvez consiga me limpar apenas do desconforto, essas coisas não saem fácil, mesmo esfregando bem
O que não sai mesmo é esse ranço de covardia, está cravado no paladar
Tenho pavor do hereditário sabia?
Me apavoro mais com isso do que com o câncer ou uma dessas doenças sem cura
Não quero ter nenhuma espécie de ódio imperdoável, mas não posso me dar a celestial nobreza de me desfazer da amargura, ou vice-versa
Sou humano caralho, penso, sinto, tiro minhas conclusões, da para entender isso?
Sinto cheiro de guerra
O tempo inteiro esse cheiro e não sabia definir
Uma luta que nunca entendi, mas que me afeta pela lógica de ser um dos alvos
Ainda acabo explodindo em tanta culpa
Minha, sua, dela e dos que só servem para apontar possíveis razões
Uns verdadeiros babacas tentando resolver os problemas alheios
Você sabe como é, também adora fazer isso, apontar o defeito dos outros
Está pensando em mim, ai, do seu cantinho?
Você pensa no que causou e em tudo que ainda vai causar?
Não, porque você é o que importa
Você, sempre você, nunca suas vitimas
Somos vitimas da repetição, por isso sou redundante
Por isso resmungo e nunca falo, nunca grito, não posso por mais nada para fora
Apenas vômitos, os fisiológicos e esses de agora, essas idéias mal formadas e postas em qualquer papel que acho
E sou o melhor em repetir palavras desnecessárias, já falei isso?
Respiro fundo para não enfartar, é que sou rancoroso, uma das heranças que renego
As pessoas ao meu redor me causam náuseas, não consigo suportá-las porque não me suporto
Acabo sempre por atingir quem não era o alvo, sou péssimo de mira
Detesto os meus porques, me parecem todos infundados
Deve ser essa a causa do meu cagaço com a terapia, também não estou afim de descobrir os nomes patológicos das minhas manias
Me culpo por achar culpa nos teus atos, não quero partilhar tua covardia
Tenho medo, conheço bem isso, sou renegado por sentir
O foda é que fica tudo muito piegas, sentimental demais
Aquela coisa de: Queria apenas um carinho, um abraço, blá, blá, blá
Nem é sabe, isso não faz mais sentido, está crônico demais
Então, o problema é que tudo isso é quase ódio
Quase não, eu cansei, é ódio sim...

sábado, 16 de junho de 2012

Sobre quem foi, ou passou, ou qualquer porra dessas




Tenho um vício, uma disfunção em acumular acúmulos de todos os tipos
Espumo de raiva quando acusado de deixar as coisas para depois
Não reconheço defeitos, não é isso que faz um covarde?
E essa é apenas uma das tantas acusações feitas a mim, a grande maioria, pura verdade
Já sinto o gosto do arrependimento brotando em minha língua
Já estou conformado com a chuva, dessa vez de porquês
Essas linhas vão gerar novas e talvez ainda mais concretas, outras acusações
Mas o telefone não toca e eu não consigo me concentrar no livro
Estou apenas lendo, o ato mecânico, as palavras não se agrupam para formar seus significados
Minha atenção está no telefone, na chamada que me seguro para não fazer, por isso escrevo
Talvez para ocupar as mãos
Talvez para me livrar dos pensamentos que não quero ter
Não quero imaginar essa conversa que acontece a quilômetros daqui
E se tinha algo maquiado, aqui, nesse acúmulo, dessa vez de palavras, acabo por entregar de bandeja meu desconforto
Quase fúria mesmo, dessas que pensamos até ser em vão, mas necessárias
Tenho que tirar esse encontro indesejável da mente, não tomaria um café sem propósito
Eu mesmo nem gosto de café, se pudesse aqui nesse instante, agora já de raiva pela demora,
Tomaria uma cerveja e fumaria alguns cigarros, já que a poesia não me serve para nada, nem é um alívio sequer
Sai de mim imaginação que surge agora incontrolada, você tem o seu valor?
E o telefone, mudo ainda, um silêncio que só eu poderia fazer nos momentos em que não suporto mais vozes
Uma dose do próprio veneno para dar sabor ao tédio da espera
A noite veio e com ela muita chuva, odeio a chuva
Detesto confirmar acusações, fazer delas verdade
Adoro defeitos, gosto de exercitá-los, claro que não de forma pejorativa
Tenho apenas o intuito da melhora, às vezes não atingida, às vezes tão demorada
Acho que mudei o foco, comecei a falar besteira
Pensando bem tudo está meio vomitado mesmo, sempre foi assim
Deve ser a pressa que estou sentindo e que em alguns momentos sim, eu tenho
As unhas todas roídas, desejo agora os ossos, cansei
Foda-se vou ligar...