quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Dos retalhos que o vento trás



Vou de um extremo a outro procurando explicações
Quero reter esse fluxo de pensamentos que me afunda culpado numa lama profunda
Recebo alucinações tuas no lado meu que rejeito, mas não evito
Um exercício que complico mais a cada caçada que me percebo fazendo
Entre os conselho e o que percebo não considero ninguém
Não te expulso, te quero, mesmo sendo uma xerox borrada do desespero
Um acalanto momentâneo, um impulso, um busca por entendimento
A certeza de que substituição não é a alternativa, nunca foi
Tanto tempo sem enxergar o que me acompanhava sem descanso
Agora sei o quanto ele também é cego
Sim, demorou, mas também foi num piscar de olhos
Mesmo assim me recolhi ao silêncio, me evitei
Deixei caminhos livres, coisas não ditas e certezas flutuando sobre nós
Do botão amarelo ao suposto cristal, nunca me livrei, nunca me permiti te deixar
Te carrego pendurado no pescoço, escorrendo pelo peito, adentrando em meu corpo
Conquistando minha carne, colorindo a alma de esperanças que não saboreava mais
Te carrego com esforço, com o peso da ausência
Numa culpada distância que também é minha, por mim causada
Então saio desencaixando partes dessa colcha de retalhos
Recompondo para mim todo o sofrimento causado
Atropelando, contraindo a sujeira atormentada de um desejo ainda reprimido
Não o teu, mas a causa dele, a simplicidade tão difícil de atingir
Tão fácil seria abrir a boca e dizer sim
Não é para entender nada, não existem explicações
Não é para ignorar, não tem espaço para incompreensões
Nosso encaixe se adéqua a forma e as implicações oferecidas
É automática a compreensão que vem de dentro, aflora os corpos, funde
O que mais pode explicar todo esse tempo juntos em caminhos diferentes?
Dessa vez sou eu que espero o que ainda não chegou
Que fico com a companhia da rainha da dor e seus agudos de lembranças tão queridas
Dessa vez, justo nessa vez sou eu que fico a recortar palpitações da lua
Sei que não presto para isso, mas o amor é meu fracasso preferido
Que no meio de toda essa fumaça aquele antigo olhar reclame novas e repetidas tentativas...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Enquanto o passageiro não chega



Você revira minha cabeça com memórias
Mora nos pensamentos e nos devaneios mais preciosos
É um lampejo feliz e um medo fácil de abandonar
Uma luta devotada a conquistas sagradas
A coragem de deixar para traz aquele velho ideal de perfeição
A vida que vai escorrendo para todos os lados, mas que deságua num mesmo redemoinho de sensações
Passos lentos, lágrimas, dias de sol, calafrios e borboletas
Briga dos dois lados com os mesmo, nós
Redescobertos pelos de antes, vidrados numa construção mutua do que vem depois
Redenção e entrega tentando encontrar o eixo preciso, um paraíso de profundezas infernais
Desculpas não às quero, nem às devo
E o sofrimento apenas deve ser evitado, posto de lado, esquecido se der, só não sei como se faz
Abri portas e janelas e esperei pelo barulho de teus passos me invadindo com cuidado
Tuas pegadas foram marcando, registrando essa tomada despercebida
Me fiz argila pro teu tato modelar
Os ossos reclamaram abstinência, a garganta ainda permanece seca  
Estive longe mais voltei, minha sombra reclama o lugar que nunca deixei
Fomos, mas estávamos sempre aqui, por perto, na madrugada, no escuro de mãos dadas
Vendo na tela historias que poderiam acontecer do lado de fora, depois que a poltrona é deixada
Despertei, releio possessivamente a historia de setembro acordando
Mesmo sem saber se sou o remetente, e não sou
Quero acreditar nas tuas palavras, quero te relembrar de teus escritos
Da jornada, da luta, dos silêncios, de perguntas engolidas, de mim
Mas o telefone toca e te leva para longe, para além das montanhas verdes
Para um lugar onde sou intruso, sou poeira varrida e escondida no tapete
E então entre risadinhas e palavras surdas aos meus ouvidos, sim, como você diz a recíproca é verdadeira
Nas promessas de novas ligações ao anoitecer você vai conectando outro sorriso que não me atrevo a ver
Ai então eu sou mais um, ai então existe mais um
Que te fala o que não digo, te procura como não faço
Que quem sabe não se enfureça como eu, nem te reclame como faço
E agora? Pergunto-me então
O que consigo é me fechar ainda mais e me agarrar na sua mão
Sentir teu cheiro e descansar minha cabeça nesse ombro antes que as luzes acendam
Antes que o telefone toque novamente, que você saia correndo pelo atraso
Antes que volte a ruminar agora memórias de abandonos, de promessas não compridas
Afinal, nem sei mais de mim...

sábado, 29 de outubro de 2011

Entre o esbarro e as conversas sociais



Existe um satélite e outro entre nós
Só a distância te aproxima de algo
De quilômetros a discussões de gênero
Não sei se carência, não sei se exagero
Quanto mais impróprio, quanto mais incomodo melhor pra ti
Te desejar na ausência é fácil para mim,
Mesmo sem um fio condutor que transmita algo além das anedotas despejadas sem controle
Deságue tuas histórias, vou costurando esse livro mirabolante, ingênuo eu arriscaria dizer
Você finge não soletrar minhas perguntas, paralisa as tentativas, bloqueia aproximações
Rasgo meu sofrer antecipado e engulo com sacrifício qualquer esperança mais entalada
De repente esses dois anos parecem duas décadas, dois desertos, dois pontos desajustados
Minha memória fraca vai resgatando, ou compondo, ou fantasiando tua imagem
Essa já recriada pelos ângulos certos, as edições, os vultos, aos custos e recursos
Reinicio, atualizo e nada me chega ao balão de pensamentos
Então coloco a culpa na falta de cabelos,
Na dormência da coragem, na falta de impulso, nas olheiras de noites acumuladas
Mania de antecipar o grito surdo antes da dor invadir o tremor do meu corpo
Mania de adiantar esse atrasado que nunca chega de fato
Então abandono o jogo nas preliminares
Não quero fazer parte do álbum de figurinhas platônicas
Ainda me arrisco a habitar a realidade, por mais relativa que possa ser
Você está sempre a flutuar, sempre se esquivando
Então para que me entregar o jornal da tua vida?
Limpe esses óculos e veja que a porta está aberta, é só entrar, invada, não peça licença
Abstenho-me dos nomes e de destinos astrológicos
Apenas seja capaz de tatear algo que não se limite e teu imaginário
Saia da platéia e entre nesse telão enorme
Eu tenho mais que uma simples informação...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Embrulho



Faço o que agora para acalmar anos inteiros de agonia?
Vamos anular todos os culpados antes que seja tarde
Encarar de vez esses motivos mudos, essa patologia que já pertence a todos
Uma brutalidade extra no pacote
A tua fome de atenção já se esbaldou com todos os meus nervos
Não controlo mais esse tremor tão prematuro das mãos
Os desabafos são apenas pinturas na minha cabeça
Estão bloqueando os caminhos, fechando as portas
Tenho uma horta de distúrbios e as sementes foram tuas
Agora manifestando culpados naturais, tudo já foi distorcido mesmo
Não tenho mais forças para ensaios de tragédias que escorrem para baixo do tapete
É melhor abortar o estrondo no andar de cima
Risos não estão incluídos nesse pacote
Não pretendo presenciar meus passos apresados na madrugada
O perigo precisa de um esconderijo
As coisas não são resolvidas com estilhaços de pólvora
Deveria me acalmar, fumar mais um cigarro
Nunca aprendi a centralizar pensamentos e seguir em frente
Sou a banda podre e daí decorre toda a dependência
Quem sabe conversar com um amigo, abstrair
Mas fico abrindo cicatrizes num espaço em branco
Antecipando o pesadelo do sono
Aniquilando os acontecimentos, esses não precisam mesmo achar uma brecha
Deveria ter a coragem para cuspir o enjaulado dentro da boca, por entre a língua, afundando na garganta
Mas nessa altura as palpitações estão descontroladas
Só escuto as hélices do meu coração, mas não levanto voo
O suor escorre pelas minhas costas, nunca quis estar aqui
Muito menos provar desse sabor azedo
O gosto é uma coisa que não se esquece...

sábado, 3 de setembro de 2011

A reclamação do pássaro que está voando



O telefone toca e a ansiedade interrompe o primeiro toque
Uma voz ausente já há tanto tempo diz alô
Mergulho então nas velhas lembranças remoídas e rejeitadas
Terceiros me desculpam da minha falta de coragem
Terceiros vão alimentando o de ainda não foi dado como acabado
Existe um intrometido que em pouco tempo vai tomar outro caminho
Me aproveito da rachadura e escorrego para o que tenho medo
Aceito o pedido, espero uma futura ligação
Vou roendo as unhas e achincalhando o tempo
Pelos cantos dessa cidade muitos anseiam o mesmo momento
O horário se aproxima, olho pro lado e nenhum barulho
Vou construindo as conexões entre momentos tão diferentes
Quem sabe a ficha poderia finalmente cair
Os outros cada vez mais afoitos e com todas as letras decoradas fazem suas contagens
Os versos antigos invadem minha cabeça e dou por certa a recaída
Retorno na esperança de acalmar meus calafrios
Não, é tudo muito rápido, sem maiores delongas,
Para não atrapalhar os novos planos talvez, os planos originais
Chutado para o escanteio, a sombra enjeitada, o fantasma mais requisitado
Você pode ter escorrido dos meus bolsos, mas eu não caibo nos teus
Dispenso o teu segundo lugar, não tenho talento para preencher buracos
Coloquem os melhores perfumes e tomem seus rumos
Espero que se enfiem num tremendo engarrafamento
Que faça um calor horrível nessa noite de inverno
Esqueçam o que não devem em casa
Sejam barrados na portaria
Lembre de mim o tempo inteiro e se arrependa da companhia
Que ela toque sua ferida com os melhores agudos
E na canção de amor engasgue, que no beijo sinta mal hálito
E assim se sinta arrependido e meu gosto invada tua boca
Porra, definitivamente não era ele que tinha de estar ai, aqui
Vamos pensando juntos no que deveria ter sido
Estragando o que não é bonito
Que esteja lotado, pisem em seus pés, atrapalhem sua visão
Que tudo acabe antes da hora
Depois dessa grande merda não vai existir mais a vontade de levá-lo onde eu costumava ir
Deve ser lá o teu casulo mais seguro
Nada de se afogar nos lençóis brancos nem se aliviar com a água quente
Nem garrafas de vinho para aflorar e colorir a madrugada
Vai economizar o trocado do pernoite e ficar só na vontade, apenas isso espertão
Aprenda a não prometer o que não pode cumprir
Eu estou tentando me encaixar nessa cama sem espaço para mim...

sábado, 20 de agosto de 2011

O que já não é como antes




Cadê você pelos cantos escuros da casa, acalentando, dando espaço as brechas do sol
Cadê poesia?
O parto vai sendo cada vez mais complicado, me apeguei na gestação
As madrugadas ainda são ativas, mas os pensamentos não fluem pelos indicadores como antes
São raros os momentos que me encaminham para os alívios, os únicos que possuía
As vontades que saio ejaculando precocemente
Os acúmulos vão sendo armazenados nos espaços já tão cheios das coisas de sempre
Tudo vai sendo disfarçado com outros gostos, palavras, silêncios
Nem o perigo de ontem afugenta o tédio de agora
As ideias vão se desprendendo da cabeça junto com os cabelos que estão desabitando meu coro cabeludo
A correnteza vai apenas seguindo e esperando o momento de desaguar noutras águas
É tédio sem rotina o que vai entupindo artérias e preenchendo o folgado das calças
As pedras no caminho continuam a calejar os pés, agora sem tantas reclamações
É o costume, esse desespero de não dispor mais de tentativas
Não a disponibilidade para ser tentada, nem a rua chama mais
Vou garimpando o desejo, um que seja menos animal e menos gente também
Só o querer que ainda lateja mesmo nas feridas enraizadas
A procura do molde certo para o ideal criado
Os olhos saem vagando, catando as referências de dentro por fora
Os passos estão sendo dados pro lado contrario, tortos, desvirtuados
Cada vez mais longe das rédeas desejadas
Uma seleção cada vez mais rígida, cada vez mais tonto e atordoado no fim da festa
Catando as poucas lembranças no dia seguinte
Remoendo e remoído
Afundando entre os lençóis congelados de tantas noites uivantes
Amedrontado com as palpitações e a desidratação do corpo
Se vendo do jeito que não queria num reflexo que vai sendo evitado
Medindo a força que existia antes e percebendo que o que já era pouco sempre pode ser menos ainda
Não tem mais como improvisar sorrisos, e como é chato sempre o mesmo dramalhão
Gritando as explicações disfarçadas de cada desgosto e ninguém ouve
Mas não da para corrigir de vez a postura, parar com o refrigerante e ser um livro aberto
Não é todo mundo que pode sair colorindo a vida sem cair na cafonice
Existe felicidade na tristeza também
Então vou usando tudo o que posso contra mim
Me acostumei com os atalhos que fui tomando sem destino algum
Vamos criando as próprias leis, valorizando todas as contradições
Vou encontrar a liquidação certa e comprar a alma com o beijo mais viciante...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Do que foi deixado e suas contra indicações




Uma solidão de mentiras juradas vai me aprisionando em culpas
Esvaziando o avesso que anda revirado
Veias estão congestionadas por cima da pele
Os ventos não me sopram a lugar nenhum, lugar ninguém
Impulsos não me fazem avançar, a ficha do sobreviver não cai
Nada de riscos oportunos ou tentativas estimulantes
O abandono chega sempre antes, muitas vezes antecede o acontecer
Minhas escolhas subiram patamares, estão distantes
Uma aquarela em tons de cinza
Vou estranhando vontades, entalando os quereres
Delas não me lembro, não as tenho mais
Meu pecado maior é o silêncio vencido
A facilidade do suspiro e o ardor da consciência
O intervalo entre o desabafo não tido, rejeitado
As reticências, os lugares de mim que vou esvaziando
Constância cômoda de ir piorando tudo pelo descaso
Passos confusos impedindo acontecimentos
Bloqueio de rachaduras bastardas
Vandalismo interior, arrastão de sentimentos
Distúrbios distribuindo as senhas de atitude
A linha reta com as mesmas paisagens repetidas
Placas de impedimentos nos canteiros proibidos
O peso da cabeça não permite cortar caminho
Sair desbravando aquela outra coragem de menino
Os desprendimentos abandonados ao longo dos tratados traídos
Um ranger de dentes ancestral
Sem espaços para uma pseudo perfeição
Aliás P-E-R-F-E-I-Ç-Ã-O alucinação preferida
O esporte da auto-sabotagem...