domingo, 16 de janeiro de 2011

Com muito cuidado e alguma certeza


Agora, para esticar as madrugadas da lua que olha sem descanso

Escuto aquela canção, resposta tua

A boca vermelha virginiana de olhos em ventania

Justa ventania que me toca como se fossem tuas mãos a me abarcar em proteção

Como antigamente, num tempo de confusão chuvosa e paredes em ruínas, escombros

Viciei-me na sua resposta indireta, o vídeo que você não gosta

As coisas mudaram seu frescor, não entendo como não podemos perceber

Eu não sei mais, nunca soube, saberei?

Tenho uma fome do mundo, não me encha esse oco consistente

Pássaro que perde o canto no conforto da gaiola

Jogue fora sua matemática de amor, jogue fora esse engano

Será mesmo que seguraria de olhos fechados em tuas mãos?

E se esses olhos estejam abertos por quanto tempo vão durar cegos?

Eu posso mesmo repetir, nos repetir, podemos?

Amor, criação ocidental, enganoso tormento

Me perco farejando a intensidade da paixão

Ilusões sonhadas, como a que te toma o tempo agora

Refúgio de sensações, válvula de escape

Nos imagino sob uma luz antiga no fim da tarde, onde hoje paira uma saudade sem socorro

Quero que você entre pela porta da frente, troque todas as fechaduras e construa uma parede na porta dos fundos que um dia te fiz ver o lado de fora

Não quero mais tua vos amiga no telefone em frases eventuais

Aguentaria eu as quatro paredes adocicando minha imaginação visceral?

Não sou dado a calmarias

Ele está partindo finalmente, medo de recomeço

Aquele que fez sombra, anoiteceu qualquer dia que invadiu como um ladrão

Eu estou enxergando mundos que antes estavam fora de foco

Será que me reconheceria nos abraços, nos braços?

Aparece qualquer dia com todas as respostas

Comigo não é permitido segurança

O que posso te dar de certeza é um simples: Eu não sei mais...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Recaída



Descobri a criança embaixo do seu topete

Escondido em suas roupas de marca

Te joguei perdido em meio as pegadas daquela areia molhada de desejos irrealizados

Um dia alguém te mostra que as coisas não são tão fáceis

Que afeto honesto não se encontra na padaria

Que bacanais uma hora não vão saciar, a variedade não é eterna

Eu te conheço apenas agora e não gostei do que meus olhos pintaram

Está nas espumas de ondas do mar a lembrança dos dias escurecidos

De quando tentava ocupar a mente fugindo de sua face, seus traços, toques

Um tempo em que só mesmo as ervas amoleciam a dor

Onde você estava?

Quem vai concertar as coisas para você?

Ardente nos meus sonhos, preso por dentro

Refletido na pupila dilatada

Quando a lua estava indo embora eu sempre me deitava sozinho

Nas coincidências o sangue congelava, tremor, calafrios

Mergulhava no liquido do copo nas minhas mãos

Me bebia querendo te engolir

Você seguia desonrando meu nome

Eu te procurava nos mesmo que te levaram

Procurando nos reflexos escuros das sombras centímetros maiores

Desejando a porra que somos nós

Fazer o que se me perco com olhares cínicos e ossos salientes em pele clara

Veneno escorrido nos meus lábios

Corria alucinado pra te encontrar entre cervejas, destilados e coisas ilícitas

Eu abstraído pelo verde, você louco pelo branco

Sempre me engano por que quero, com fudidinhos que não prestam

Me cantando ao pé do ouvido palavras minhas, canções dela que não encontrarei

Me rasga ter sido apenas um caso, queimando todos os andares

Jogo perdido, azar maldito, mantido, mandinga

Tudo o que poderia ser era apenas aquele silêncio incomodo

Uma coleira prendendo um animal no cio

Insuficiente para compartilhar o real

Ainda engulo todo esse arrependimento

Só queria te encaixar na forma do par ideal

Ilusão alimentada a grandes porções de esperanças

Quando sua sombra me cobriu, reconheci o inexistente

Te expurgo do meu corpo como suor saindo pelos poros

Sem medo da desidratação desértica...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Linha e Agulha


Resmungo intolerante

Poesia retalhada

Historia sem começo

Medo fumegante

Planos não realizados

Qual é o teu nome?

Olhos do breu da minha claridade

Martelo da consciência

Foco mudado, ciclo entreaberto

Água teimando a escorrer pelos dedos

Como dar o laço perfeito?

O cronometro já foi ligado

Por gentileza não se vá antes de vir

Melodia alegre para uma letra triste: Samba

Pernas bambas, borboletas renascidas

Olhar viajante, longe, longo, logo

Quatro paredes, nas mãos minha imaginação

O toque da mente, será que me pensa?

Fora dos sonhos, entregue ao tato da realidade

Escarro de mal entendidos do passado, passados-presentes

Uma nova rodada do ridículo da vida

Irrigação para o deserto

Página inteira, folha dupla

Suspiro no fim da tarde

Noite de sono, madrugadas em claro

Competição às cegas

Distância aumentando

A coragem que não tenho

Poço sem fundo

Roer de unhas cariadas

Só olhar?

Jardim de plantas carnívoras

Concorrência de fim de semana,

De olhares de breu,

De sede-seca-inflamável

Como te achar?

A voz censurada por tremer

Esperanças semeadas

Algo a se fazer

Ponto cruz

Nó de marinheiro...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ladrão Imaginaruim


Foi ali mesmo que meu olhar caiu sem freios no breu

Libertaram-se do meu rosto as expressões que não conheço

Jogo de passa e repassa

Os meus no seu, os seus em mim

Nenhum impulso arriscado

Cliente satisfeito, outros olhares a mim jogados

Queda livre de instantes permanentes

Imaginarium

Quatro cantos percorridos

Gestos contidos, alguns lances perdidos

As letras dos nomes, gentileza trabalhista

Procurando algum presente?

Ladrão de uma vitima entregue

Riso nervoso, teu olho, calafrios

Dois nomes que não sei

Olhar parado, boca, sede, seca, deserto

Fui com os olhos

O olhar ficou até o fim do teu expediente

Te acompanhou no ônibus, até em casa

Percorreu teus passos

Abriu a porta do teu suposto quarto

Te viu cair na cama cansado do dia corrido

E desejou saber o que via e onde estariam os olhos negros que me olharam...