
Por mais que pense em como poderia dar certo, o fato é que o encanto não resistiria Acabaria por não aturar impulsos de primeiras décadas, julgamento disfarçado
Te encontrei numa viajem primitiva
Num primeiro duplo sentido, uma ponte por cima das tuas carnes
Você finge como eu, disfarça os interesses, para que as coisas não sejam o que parecem
Um modo de aliviar toda a tensão que percorre as veias, o sangue se concentrar
Príncipes de um sabor docemente azedo, embriagando vontades recolhidas
Encorajando-me atos normais banidos por mim
Chuva incentivando repartir o frio na busca de calor
Protegi das águas teus cachos alisados
Deixei teus orifícios de lado e penetrei fundo nesses teus olhos claros
Segurei teu corpo contra o meu, frágil esqueleto acalentado
Imã astrológico de terras mal tratadas, virgens de um encontro
Mesmo mês a retrucar nossos silêncios só a nós compreendidos
Risadas de espíritos palhaços
Temperatura, encaixe, sabor
Mãos dadas nos prendendo os lábios famintos
Sede incurável, doença chamada desejo prematuro, findo
Minhas mãos percorrendo tua cintura, sua pele em choque com a minha
Vamos liberar os prêmios da noite casual
Amasse minha fragilidade, plante essa dominação escondida
Arranque arrepios da minha espinha enquanto percorro tua nuca com minha respiração
Não podemos nós questionar, não estranhamos nada
Acerto no alvo, isso é o físico encarnando, me fazendo pagar a língua grande
Vamos para uma maliciosa festa particular?
Vontade de te fazer habitar meu quarto sem dono
Te encaixar em meio aos passados guardados entre os lençóis
Deliciar-me com teu aparelho asqueroso, sexo das maiorias, a procriação
Unificar um ato pelos fatos adquiridos no caminho até em casa
Regenerar um caso perdido
Encaminhar novos quesitos, gostos inativos
Conhecer o que não me permito
Aprisiono esse meu desejo todo teu, nessas linhas encharcadas de libido
Abandono essa fantasia, me proíbo de inchar nervos com pensamentos teus
Essa ilusão vai permanecer no escuro, não alimentarei essa inclinação para o oposto...
Respinga na mão o alivio viscoso da imaginação
Atos proibidos com status de ocupado, aperto da consciência esmagada pelo instinto
Maldição cravada na minha carne vagabunda
Sopro efêmero que me conduz por entre os reprimidos
Formula errada, culpa acumulada nos sussurros não atendidos
Números descartados
Enxergar sem ver, desconhecer
Te atingir com a moeda que trocamos
Figurinhas compulsivas
Te afogo um dia nessas lembranças e retomo assim, meu fôlego de inocência roubada
Não sei se é pior desconfiar dos outros ou de mim mesmo
Ainda vou conseguir controlar esses malditos impulsos baratos
Parar de me servir por nada ao perigo, me livrar do gosto ruim que gruda na boca
Gosto que impregna nos atos, esmaga a consciência
Manchas encardindo a alma retalhada
Estou corrompido pela armadilha vulgar do momento, é a rejeição mentalizada
Todos como eu, hipocrisia disfarçada nas necessidades inevitáveis
Não posso viver com esse verme roendo, deixando tudo oco
Quero de volta a ilusão do sonho, a idealização das minhas fabulas
Não adianta, está além de mim
Como domesticar um vicioso?
Logo eu, tão sem controle, fora dos limites, incorrigível
Afundo cada vez mais em minhas proibições pecaminosas
Adoeço com tormentos que faço germinar a todo instante
O medo se concretiza, vem o luto, a quarentena e depois uma possível cura
Crio então uma ávida resistência de mim mesmo, me autoflagelo
Persisto, insisto, mas não mudo
Repriso o inevitável, recomeço um ciclo novo
Recaída, lama chafurdada novamente
Inclinação praguejada, ânsia
Guerra: Perdida...
Queria que chegasse com a sua alegria fantasiosa
Da vida sorridente repleta de pessoas felizes
Essa tua forma de pensar, viver e ser
Parentesco fundo no breu do esquecimento
Pergunta respondida, punhais letrados
Cavera feita, medo dolorido, mentira dele
Opinião da maioria, língua congelada
Acorrentado por maldades, nós deixando marcas não aceitas
Esmagado como uma barata que incomoda, causa nojo
Saudade de um tempo que não existe, nunca existiu, nunca será, nunca foi, jamais
Normais do modo de ser, mas de todos inaceitável
Do viver escroto de excluir, punir diferentes diferenças
Raça de subsolo, poeira jogada para baixo do tapete
Margem maldita, espuma poluída do mar
Te quero para alimentar ilusões positivas
Não para reclamar direitos inexistentes
Levantar bandeiras ou denunciar infratores, são a maioria, que sempre vence,
Que sempre esquece por mais simpatia que se afirme, apenas mais um, outra vez
Quero praguejar injustiças milenares do mundo de culhões inférteis para o novo, o povo, eu
Só, num barco de exilados por falta de uma suposta moral e aprisionados por seus instintos
No meio de todos que já foram escorridos pelo ralo de pestes associadas
Julgado por infratores primitivos, que provam camuflados os que correm contra a correnteza
Degustam de um silencio ensurdecedor de medos próprios
Alucinações pecaminosas de um prazer que não é escolha, é fato
Me acorda de mais esse pesadelo
Sorri para mim, mostra que o mundo é fácil
Serve-me outra dose e me acende um cigarro...
Difícil não me repetir, repetindo mais uma vez tua insistente permanência
Primaveras se cumprindo, faz tanto tempo
Teu vulto me rouba a atenção, tua sombra faria um brinde comigo?
Poderia te comprar com um maço de Malborro, sempre tenho na bolsa
Somos tão baratos, valemos menos que um Bom Dia
Fiquei com teu defeito de não misturar sexo com emoção
O desconcerto tomou seu lugar
Minha dor preferida, gosto do jeito que ainda queima
Como é que eu vou embora dos teus retratos escondidos?
Do diário construído em vão
Da persistência de te ressuscitar nas minhas fantasias
Alegorias de um carnaval sem cores
Festa sem balões, bolo, doces
Saio recortando frases pra te compor na minha idealização
Repito passos nos lugares abandonados por nós
Repito, insisto, minto pra mim, milhões de vezes
Perco todas as apostas de te abandonar por dentro
Lavar da cabeça tuas lembranças, deixar escorrer os detalhes
Por que me pego pecando contra o mundo,
Quando arranho as costas de alguém e espero que você sinta
Te jogo maldições sem querer, puro instinto
Toda essa coisa foi ficando tão pesada
Masoquismo meu, gosto como dói
Minha abstinência não passa
Quem sabe isso me deixa satisfeito
Sei que eu nem existo mais, estou queimando sem razão
Apague essas memórias com teu sopro de mentiras,
Como as velas desse teu dia...