segunda-feira, 6 de junho de 2011

Coxia



O ponteiro segue seu rumo, a chuva alaga a cidade
Eu me alimento das unhas na esperança inerte de estancar as chagas
O escuro me abraça assegurando essa falta de liberdade
Recolhimento involuntário a criar pretextos, ancora enraizando solidão
O poço sem fundo que engoliu minha moeda recheada com o desejo mais puro
Uma sobrevivência que seja por esses meios de luta diária
Fome despreocupada, caçada louca de focos, o centro
Essa mutação da pele, o corroer dos ossos, a inflamação dos nervos
Os pecados encarnados, marcados a ferro
Fantoche de si mesmo para o julgamento dos outros
Desespero de quem nada sabe
A insegurança da memória que remete a essa paixão, doença incurável
Portas sem trinco enfileiradas à minha frente, nenhuma saída de ar
Faces enrugando, pés dormentes, vontade a alongar esse caminho
Karma recorrente, estômago de oco descrente
Correspondências sem endereços, sem respostas, palavras cansadas
Sonhos de bolha imperfuráveis, distúrbios, compulsão
Sujeira incrustada por milênios, esgotos para um encontro
Nada de explicações, os olhos soletram teus pensamentos inabaláveis
Distorção do encosto barraqueiro, lágrimas dos crocodilos lúdicos
Toda a consciência de que é preciso sangrar os calos,
Cair muitas vezes de joelho, respirar fundo e desejar muito mais merda...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mosaico





Sim, às vezes a necessidade bate do nada
Acompanha por dias uma coisa que embola por dentro
Nó de marinheiro, novelo crescente de linha
Hematoma que demora desaparecer
Revirado, do avesso, baú desordenado
Quero ter uma conversa com o homem do espelho
Sem perigo de cacos e anos de azar
Faxina de desesperos, mais poeira por baixo do tapete
Uma mudança precisa ser feita, coragem
Suplemento para compor o espaço em branco
Entendimento para as palavras, silêncios
Só, reconheço os contornos furtivos das sombras
Meia luz corrompendo desajustados
Pingos manchando o chão insaciável
Solidão curada com filmes e muita pipoca
Curvas acentuadas, centímetros acumulados nas calças
Mentiras em alta definição
Mãos vazias, olhos desencontrados
Renegação, andar de baixo todo meu
Ontem quis ir embora
Hoje quero despedaçar reflexos
Fluxo congestionado
Garganta seca, febre inconformada
Conexão baixa, lentidão, comodismos
Foco corroído pelo tempo
Dialogo não diagnosticado
Opiniões na lata do lixo, um luxo a cada ferida
A diferença entre ser e fazer pose
Auto-afirmação alheia, luta de golpes baixos
Telefone sem fio, ondas de pensamento
Egoísmo de um julgamento feito...

domingo, 1 de maio de 2011

Permitindo mãos nos bolsos



Estranho-me recolhendo pontos fracos
Me atiro no conforto de uma troca
Deixo rastros onde chovem carícias
Corro os riscos de estar mortificando outros seres
Aniquilo possíveis descobertas fora do meu contexto
Perguntas estourando minhas barreiras
Um grude a me cansar da mesma forma
O fuso horário distanciando os tempos, fruta colhida antes da hora
Nenhum incomodo mais persistente, paciência carente a diluir afastamentos
Tentativas refazendo aquela sombra boa,
Pra se esconder do sol, apanhar a brisa, soprar as cinzas
Reforço a purificar o fogo, pólvora flamejando, semente replantada
Back?
Coleira frouxa, gaiola aberta
Um frio germinando do intestino
Olhares passados, repassados, roubados, um gosto novo sufocado
Vontades não realizadas, desistências anunciadas, pulsação
Pedidos que não importam, não se importam
Exposição controlada pelas rugas germinadas na face
Nada esperado em troca, nenhum reembolso, nem mesmo lucros a colher
Certeza mesmo só de perda, de um no outro
Noites acolhidas, yellow songs
Fotos a triturarem promessas dispensadas
Lembranças no museu azul do paraíso
O quarto intacto, deixado para trás, abandono para o novo
Nada firmado, tudo no alcance do toque
Descoberta as cegas de um território já tateado
Cascata que cai livre ao encontro de um rio sempre diferente
Novos sabores de um reencontro...