segunda-feira, 6 de junho de 2011

Coxia



O ponteiro segue seu rumo, a chuva alaga a cidade
Eu me alimento das unhas na esperança inerte de estancar as chagas
O escuro me abraça assegurando essa falta de liberdade
Recolhimento involuntário a criar pretextos, ancora enraizando solidão
O poço sem fundo que engoliu minha moeda recheada com o desejo mais puro
Uma sobrevivência que seja por esses meios de luta diária
Fome despreocupada, caçada louca de focos, o centro
Essa mutação da pele, o corroer dos ossos, a inflamação dos nervos
Os pecados encarnados, marcados a ferro
Fantoche de si mesmo para o julgamento dos outros
Desespero de quem nada sabe
A insegurança da memória que remete a essa paixão, doença incurável
Portas sem trinco enfileiradas à minha frente, nenhuma saída de ar
Faces enrugando, pés dormentes, vontade a alongar esse caminho
Karma recorrente, estômago de oco descrente
Correspondências sem endereços, sem respostas, palavras cansadas
Sonhos de bolha imperfuráveis, distúrbios, compulsão
Sujeira incrustada por milênios, esgotos para um encontro
Nada de explicações, os olhos soletram teus pensamentos inabaláveis
Distorção do encosto barraqueiro, lágrimas dos crocodilos lúdicos
Toda a consciência de que é preciso sangrar os calos,
Cair muitas vezes de joelho, respirar fundo e desejar muito mais merda...

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