Tenho um vício, uma
disfunção em acumular acúmulos de todos os tipos
Espumo de raiva quando
acusado de deixar as coisas para depois
Não reconheço defeitos,
não é isso que faz um covarde?
E essa é apenas uma das
tantas acusações feitas a mim, a grande maioria, pura verdade
Já sinto o gosto do
arrependimento brotando em minha língua
Já estou conformado com a
chuva, dessa vez de porquês
Essas linhas vão gerar
novas e talvez ainda mais concretas, outras acusações
Mas o telefone não toca e
eu não consigo me concentrar no livro
Estou apenas lendo, o ato
mecânico, as palavras não se agrupam para formar seus significados
Minha atenção está no
telefone, na chamada que me seguro para não fazer, por isso escrevo
Talvez para ocupar as mãos
Talvez para me livrar dos
pensamentos que não quero ter
Não quero imaginar essa
conversa que acontece a quilômetros daqui
E se tinha algo maquiado,
aqui, nesse acúmulo, dessa vez de palavras, acabo por entregar de bandeja meu
desconforto
Quase fúria mesmo, dessas
que pensamos até ser em vão, mas necessárias
Tenho que tirar esse encontro
indesejável da mente, não tomaria um café sem propósito
Eu mesmo nem gosto de
café, se pudesse aqui nesse instante, agora já de raiva pela demora,
Tomaria uma cerveja e
fumaria alguns cigarros, já que a poesia não me serve para nada, nem é um alívio
sequer
Sai de mim imaginação que
surge agora incontrolada, você tem o seu valor?
E o telefone, mudo ainda,
um silêncio que só eu poderia fazer nos momentos em que não suporto mais vozes
Uma dose do próprio veneno
para dar sabor ao tédio da espera
A noite veio e com ela
muita chuva, odeio a chuva
Detesto confirmar
acusações, fazer delas verdade
Adoro defeitos, gosto de
exercitá-los, claro que não de forma pejorativa
Tenho apenas o intuito da
melhora, às vezes não atingida, às vezes tão demorada
Acho que mudei o foco,
comecei a falar besteira
Pensando bem tudo está
meio vomitado mesmo, sempre foi assim
Deve ser a pressa que
estou sentindo e que em alguns momentos sim, eu tenho
As unhas todas roídas,
desejo agora os ossos, cansei
Foda-se vou ligar...
Como já diria o Caio no texto 'O dia depois de ontem' "Diga a ele que eu teço."
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