segunda-feira, 13 de junho de 2011

Estiagem


A vida me envia contas que não consigo pagar
Tão complicado entender os sinais necessários
Sigo contra a corrente e me deparo surpreso com a banalidade, a mesma causadora de fuga
Ando sufocando com a mesmice que preguiçoso vou deixando preencher os cantos da casa
Me acomodo pelos escuros não atingidos pela luz da televisão
Não respeito refeições, alimento compulsões e sigo domesticando distúrbios do existir
Abrir as portas e correr para os riscos das tentativas sociais é me render
Compactuar com as minhas desgraças e reforçar comportamentos reprovados
Os do lado de fora me incomodam com a satisfação cotidiana, pelo menos podem mudar
Pular a linha da moralidade e se lambuzar com a lama do real
Não tenho como mudar de lado, abracei o inquestionável
Isso traduz o distanciamento dos genes, um estranho parente a ocupar mais um espaço
Atos indiferentes nunca questionados, hierarquia de silêncios
Um referencial a nunca ser cumprido e para onde apontam as pegadas
Não me rendi às cobranças, nem delimitei caminhos e muito menos engoli os sonhos
O relógio biológico trocado me revela o nascer dos dias, a repetição do inacabado
Terreno onde só o desejo floresce, o instinto que faz quebrar o gelo é motivo de fulminante dependência
O hoje esconde a vontade de dizer, nada se guarda é outro começo, só
Tenho as chaves, mas mesmo assim me sinto e estou preso
As ondas que vem e banham os pés não podem retornar
Não se acha novos ciclos pintados no horizonte
O agora é um ladrão de pensamentos e o tempo um crápula
Nada para se fazer, a mesma trilha, caminhos circulares
O mesmo rosto refletindo o não
Uma única estação onde nada desabrocha, não aprendi a deixar florescer
O nada é insuportável, alterações entre a estranheza e o asco a depender do humor
Taquicardias revelando clichês, pulgas atrás da orelha e as mesmas manchetes no jornal
Outro par de olhos para enxergar melhor o entardecer
Não chove mais por dentro...

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