domingo, 28 de fevereiro de 2010

Inconsciência realista de um Pierrot


Eu continuo mergulhado em minha fossa
Continuo esparramado na luxuria praguejada
Continuo com esse meu jeito empírico sem trégua
O tempo não me reserva surpresas renovadas
Ele faz surgir de profundezas desagradáveis, você fugitivo
Essa perseguição de coincidência que nos deixa verso e lado
Tão longe de casa e me chega assim trazido por ventos de serpentina
Minha alegria que já não estava tão no clima, fugiu atrás de outro folião
Eu era agora inteiro ódio, rancor, raiva, asco e desejo
Fui te aturando pelo bloco adentro entre cervejas que entornava,
De farinhas de trigo que me lambuzavam e o sol que envermelhava minha pele
Nesse tempo o que sentia apenas se expandia e se intensificava
Minha cara de foda-se durou o tempo todo, alternando-se pelos disfarces
Eu vesti a fantasia do “está tudo bem” e do “eu não me importo com você”
Fiquei me perguntando como você fez tanto estrago
És feio, apático, pálido, manhoso, uma víbora pronta pro bote
Com ele, eu poderia ter ficado antes, ser mais um em seu jogo de acúmulos
Mas não, deixei mesmo pra você por gostar tanto disso, pelo teu fogo de puta ruim
Quase cai na tentação, mas não sou de me vangloriar, de fazer guerras inúteis
Resisti a não sucumbir mais uma vez, quem sabe me fazer de coitado em tua frente
Mas foi tu que provocaste saudades do amado e peso na consciência dele
Se o beijaria?
Quem sabe, não sei se pra satisfazer e alavancar meu ego
Ou num desespero insano travar uma busca por teu gosto em outra boca
Sim! Por que isso você faz bem e é do que mais sou saudoso
Depois de tanto cansaço, coisas que não precisavam ser vistas
De pele ardendo, do banho tomado e alguns cigarros fumados em duo
Pra não te ver possuindo e provando a ele, me vou
Sigo com meu mau humor afinado e censurado
Sigo pensando mais uma vez, como faço sempre
As vezes algumas palavras recortadas, vontade de pegar o caderno
De sair rabiscando a raiva com furia pelas linhas, mas o corpo pede um sono
Dormir com pesares na consciência e sofrer no peito
Ódio de você
Ódio do lugar festivo
Ódio das pessoas vazias
Ódio do traidor sagaz
Ódio de mim mesmo
Ódio maior ainda da minha solidão...

Um comentário:

  1. P/ mim vc será o eterno apixonado, preso a esse elo. Belo fingindor. E eterno amante!

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