Em instantes assim onde o amor nem é lembrado,
É que ele me fascina com maior vitalidade
É nessas poças de lama-negra-funda que gosto de pisar
De cair e me afogar com a fome soberba, o querer sempre mais
Onde "os mais" são aqueles possíveis únicos instantes de agonia
Sem o medo dos abalos, despidos de roupas e restos de moralidade
A hora que os perdidos se encontram numa mesma estrada de ninguém,
Pois a procura é tão infame que cega os olhos, altera o tato, incha os membros
O saco está fechado e nós estamos dentro
Escorregando pelas brechas, encaixando nos dedos o que a mão procura
Malabarismo de um retângulo para dois
Tudo engolido, olhos revirados, lábios aprovados
Murmúrio de idéias tentadoras
Lugar melhor, olhar, afundar, propor, dispor, foi
Olho na marca de cigarros fumados
Te trago demorado no antecipar da imaginação
Na lembrança suja de uma outra proibição de amor-amar-a-dor
Pois encima dos quatro pés daquelas quatro paredes perco a voz
O sangue gela com o vento das buzinas da janela
Os sussurros arrepiam o sufoco do tremor das pernas,
Te arranco meu nome em gritos abafados de contrações nossas
Somos um contra o outro, duelo casual
Morro renascendo em explosão, descobrindo as cuecas jogadas no chão
Meu calor te derrete em mim
Manchas no chão espelham honestas sensações proibidas
E desde então na prisão das madrugadas, minha cela
Sonho acordado com os dedos me fazendo perder o controle
E nem sei explicar como o formigamento acontece
Só que me conduz na direção daquele amontoado de casas, jardins
Atravessa escorregando junto com os cabos do elevador que nos carrega
Te espera entrar e depois abrir as portas, tuas portas
Flutuo na ponta dos meus pés pela sala, outras pernas adiante
Quase um instinto maligno a me conduzir para junto dos teus lençóis e fronhas
Ligando o som para disfarçar qualquer gemido mais ousado
A luz da TV destoando às sombras, passos do lado de fora
Barba roçando na mente
Contração, marcas na pele, sede
Um cinema vai ser legal, me visita
Viro pro lado e pego no sono...
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